NOITE ADENTRO

Em determinadas ações, temos que refletir as interferências que aparecem no dia-a-dia. Essa história não poderia ser diferente. Retrata a vida rápida de quem escolhera seguir caminhos tortuosos. Era uma noite de sexta-feira, a lua não estava cheia, nem brilhante, mas era suficiente para despertar emoções a quem estivesse à sua espreita. Carlos se preparava para mais um fim de semana regado a bebidas e atitudes não muito convencionais, onde não havia limites para sua diversão. Por volta das 22:00, seu amigo Bruno para em frente sua casa e então com duas buzinadas leves anuncia sua chegada, Carlos rapidamente termina de se vestir e ainda arrumando o blazer desce as escadas de sua casa e encontra seu amigo. A noite parecia promissora para Bruno, tendo em vista que não saía há bastante tempo. Mas Carlos tinha outros planos, há pouco tempo havia terminado um relacionamento com uma garota chamada Lívia e diante das circunstâncias não aceitara bem o fim, passando a perseguir e assediar sua ex-companheira em todo lugar, no trabalho, na rua, em casa e onde quer que fosse. Não mais bastasse, ameaçava constantemente, tanto ela, quanto quem estivesse acompanhando-a. Carlos e Bruno eram amigos há anos, e sempre que podiam saíam juntos, eram confidentes. Chegando num barzinho de costume, com música ambiente, eis que entre 23:00 e 23:30 entra no bar uma moça linda, de óculos, vestido florido, cabelos longos soltos, batom rosado e rasteirinha, era Lívia, a garota responsável pela aflição de Carlos. Bruno a olhou e sorriu levemente, ela retribuiu o sorriso, Carlos esperou que ela se aproximasse e logo em seguida se virou, ao vê-lo, Lívia entra em estado de choque, sem palavras ou ação para evitar tal encontro.

Carlos rapidamente a segura e pede calma, diz que não fará nada com ela, que poderia ficar tranqüila. Mal sabia ela do propósito de Carlos com esse encontro ao “acaso”. Diante do embaraço provocado, Bruno permaneceu imóvel à situação, não olhava para Lívia, nem questionava Carlos. Mantendo a serenidade, Lívia por fim aceita ficar e conversar. Já passa da meia-noite e drinks aqui e ali, vai aos poucos alterando o estado lúcido de Carlos. Bruno se mantém calado por quase todo o tempo, enquanto Lívia, claramente incomodada, se esquiva como pode das investidas por ele tentadas.

Ao bater 02:00, os garçons anunciam o fechamento do bar, sem muito alarde, Carlos se oferece a levar Lívia para casa, ela recusa e ele insiste, com muito custo aceita a carona, pois Bruno iria junto e assim se sentiu mais segura. Ao deixar o estabelecimento Carlos estava totalmente embriagado, Bruno como não havia bebido se dispôs a dirigir e levar Lívia para casa, assim como Carlos. Ao chegar no estacionamento, os três entram no veículo, Bruno dirigindo, Carlos no banco do passageiro e Lívia no banco de trás. No caminho Carlos começa uma calorosa discussão com Lívia, enquanto Bruno só dirige e não afronta seu amigo diante de suas ações, ao perceber que os ânimos de Carlos estavam extrapolando o bom censo, Bruno decide intervir, mas já era tarde, pois Carlos já havia tirado o cinto de segurança e tinha partido para cima de Lívia, Bruno vendo que estava de mãos atadas não pensou duas vezes e jogou o carro, virando de uma vez seu lado, em direção um poste de energia na rodovia, por ser um carro mais antigo apenas seu lado tinha airbag, o que o ajudou a não ficar tão ferido no impacto. Carlos voou do banco de trás ao qual tentava atacar Lívia batendo as costas e cabeça no painel do carro, desmaiando ferido. Lívia sofreu alguns arranhões leves. Os dois desceram do carro, Bruno correu para abraçá-la, depois de um longo abraço, Lívia o solta, e de forma fria e decepcionada diz a ele:

--- Preciso de alguém que cuide de mim, e não tenha medo de enfrentar os problemas. Hoje pude ver que me enganei com você.

Lívia então, dá as costas à Bruno e vai embora.

Bruno volta ao carro, e vê que Carlos não mais respira, e o desespero lhe consome. Perdeu o amigo e o amor, por não ter coragem de enfrentar um e lutar por outro.

Todo dia é um enfrentamento de situações. Todo dia é uma luta diferente. E você? Já enfrentou ou lutou hoje por algo ou alguém?