Os velhos e furados all star vermelho.

Luísa ficou apaixonada quando passou com seus olhos descontraídos pela vitrine da sapataria e avistou um belo par de tênis vermelho. Prontamente seu subconsciente fez com que suas mãos cutucasse abruptamente os braços de sua mãe, cuja atenção estava em uns sapatos tropicais de flores na ponta do calçado de procedência manual.

- Ah! Mãe por favor. Olha! Eles são lindos! – suplicou Luísa.

- São muito rústicos! Se quiser comprarei um ortopé! – respondeu a mãe sem dar muita atenção segurando seu calçado tropical. A rádio da sapataria tocava aquela canção nostálgica da época em que os pais de Luísa se conheceram do Caetano Veloso.

Era verão o vendedor não tinha muita paciência Luísa tinha seus poucos anos bem mimados e sua face converteu-se a uma mal humor tenebroso lançando olhares emburrados para sua mãe e o vendedor impaciente. Até que atirou seus joelhos no chão abriu um berreiro exclamando o quanto queria aquele all star vermelho apontando para a vitrine com seus dedos miúdos.

Sua mãe envergonhada puxou Luísa pelos cabelos até a rua, erguendo-se com dificuldade ajeitou seus passos apesar do descompasso com os passos maternais frenéticos que furiosa calou-se e empurrando guiou sua filha até a casa onde moravam. Não era muito longe, mas o ar que instalou na face de mãe e filha dentro de casa a coisa iria ficar preta no pensamento da mãe que a mimou aquilo teria passado dos limites.

- Se quer o maldito tênis compre-o! – Gritou a mãe para Luísa, esta que entrou no seu quarto bufando!

Luísa era uma típica garota. Adorava uma música do barão vermelho adorava se apaixonar mas nunca demonstrava, sempre pisava no coração daqueles pobres rapazes da rua. Seu quarto era rosa com pôsteres de modelos e modelos. Não lia livros com mais de cem páginas adorava assistir desenhos em preto e branco, de um canal da t.v a cabo.

Naquele momento pensava em como comprar o all star. Foi quando seu pai chegou do serviço e Luísa correu para seu colo, e prometeu arrumar seu quarto e ser obediente para o resto do mês, então seu pai boníssimo que era entregou alguns poucos reais e moedas. Mas Luísa não se abateu, economizou o troco do pão, explorou bem seus avós e finalmente no fim do mês ela suspirou: “ Consegui eu tenho,quarenta e cinco reais e noventa e nove centavos! Eu vou conseguir amanhã!”

O dia amanhecera precocemente para ela, a garota saltou da cama arrumou o café da manhã, molhou o jardim, limpou a cozinha, a sala e o banheiro. Já tinha feito as pazes com mãe, inclusive foi comprar o jornal para ela. Assim quando fora oito e meia da manhã ela tomou um banho de princesa, arrumou-se: “ – vou comprar meu querido all star vermelho!”

- querida são 8:30! – lembrou seu pai.

- E daí?

- E daí minha princesinha, que sapatarias que se prezem não abrem as 8:30!

Explicou seu pai coçando a cabeça de Luísa e caminhando para seu quarto, pois hoje haveria uma reunião importante na empresa.

Eram dez para as oito, Luísa estava cansada fizera todo o serviço da empregada que sua mãe suspendeu os serviços da mesma naquele dia. Pensara em descansar, e foi o que fez ligou a televisão e assistiu um pouco de Bob esponja, levemente seus olhos caíram um delicioso sono incorporou e ela embarcou nos confortáveis sofás da sala. É claro que o sonho era o belo par de all star vermelho, ela os tocava suavemente pusera talco no pé, usou a meia mais aconchegante e seus pés venceram o vácuo e calçou... como um sapato de cristal!

- Meu deus! A hora!- Acordou do sono e olhou desesperada para o relógio da sala, que marcava precisamente 11:30. Meu All Star!- ela pensou correndo pelas ruas, esbarrando em todos.

Foi uma longa e tortuosa jornada para chegar até a sapataria, ela alimentava a esperança de que passara 1 mês e seu impecável All Star estaria ali. Assim que pôs os pés no piso branco da sapataria, a rádio começou tocar a velha canção de Caetano, o vendedor impaciente a avistou. Luísa sacou o dinheiro do bolso, quando aproximou-se de seu consumado tênis vermelho surgiu Tunico na sua frente. Tunico era um menino da rua, era alto e cabelos castanhos. Fora até a sapataria também para comprar um All Star vermelho, e como chegou primeiro teve a sorte de calçá-lo e desfilar na frente de Luísa que agora chorava na beira da calçada.

Chegou em casa e ligou a Internet e triste conheceu um rapaz que parecia ser diferente, e quando mencionou ter um all star vermelho seus olhos brilharam e logo queria conhecê-lo, “ quem e este?Além de ter um bom papo, usava um All Star vermelho!Ele deve ser tudo...Meu deus apaixonei!”

Marcaram um encontro na praça em um dia de sol, ele disse que iria de All Star vermelho em homenagem à Luísa. E ela que sem All Star fora de ortopé, um tênis preto horrível. Os dois saíram de suas casas, escutaram músicas românticas, imaginaram-se de todas as formas, casando, namorando, e tudo mais. Cada um chegou em uma das extremidades da praça, procuraram e não se encontraram então rondando de um lado a outro bateram de costas. E quando eles se olharam. Uma surpresa! Luísa viu Tunico e Tunico vira Luísa. Esqueci de mencionar eles não disseram seus nomes pela Internet, e eles não se gostavam muito da rua e do colégio.

- Seu ladrão de all star vermelho de uma figa!- Agrediu Luísa

- Alto lá! Eu cheguei primeiro! Contente-se com seu ortopé!- replicou Tunico.

- Como eu te odeio! Pela Internet era tão amável! Suma da minha frente! – E bufando Luísa o empurrou e andou para sua casa afoitamente.

Os anos se passaram, Tunico virou um engenheiro e Luísa tornou-se médica e jamais conseguira comprar um all star vermelho, estava traumatizada. Mas como o destino é de ninguém e um grande amor não vivido retorna a tona. Luísa e Tunico casualmente encontraram-se em uma livraria. Ela passando os olhos pela seção de romances deixou cair um livro ao abaixar pra buscá-lo viu um par de tênis, vermelhos, furados e muito velhos era o par de All Star mais belos que vira.

- Tunico?

- Luísa!

Tênue os olhares encontraram-se, as mãos relaxaram o beijo assim se fez entre os dois. Lábios serrados concentrados em um beijo que há tempos almejavam, no rádio da livraria o velho som de Caetano embalava aquela rima de amor, aquela história que teve seu final feliz, na ocasião ela usava um ortopé preto e ele, os velhos e furados all star vermelho.

PINDORAMA
Enviado por PINDORAMA em 20/11/2005
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