Albert

Era um dia comum, como todas os outros, pelo menos, era o que Albert pensava. Ele havia acabado de acordar, quase chorando com vontade de voltar a dormir, mas levantou e foi viver.

-5 horas da manha?- disse ele para si mesmo- exatamente- pareceu rebater a si, com um eu contrastante e terrível. Ele saiu do seu quarto para o banheiro dando graças a Deus por ninguém ter acordado ainda. Sua família poderia estar vivendo o pior sono da vida deles, ele simplesmente não ligava. Acho que tinha desistido disso quando eles disseram aquelas coisas para ele. Ele havia ficado extremamente chateado, nem conseguia falar com eles direito mais. Saber que eles não gostavam dele naquele lugar, o deixava tão triste que ele nem conseguia respirar. Então, ele preferia ignorá-los. Todos eles. Talvez fosse melhor assim.

O rosto das pessoas que passavam por ele pela rua sempre o intrigou, era uma coisa extremamente pessoal e significativa. Ele via as pessoas como de outro mundo externo ao dele, diferentes e que lhes fazia pensar. Ele se sentia como alguém de outro mundo, como o B-612.

Chegou no trabalho e foi direto para a sua sala, sem conversar com ninguém, sem sequer olhar para alguém. Era a sua cara fazer isso. Todos os dias da vida dele eram assim, mais solitários que o comum, mais abandonados que o normal para qualquer ser humano. Ele gostava disso.

Trabalhava atendendo pessoas, ele era psicólogo, o que era uma grande contradição. Ele gostava de ficar sozinho, mas justo seu trabalho era atender pessoas e falar sobre seus problemas (essa parte ele gostava). Mas de resto, tudo era extremamente difícil. Talvez ele precisasse de um psicólogo. E um psiquiatra. E talvez, só talvez, um amigo. Ele não gostava dessa perspectiva, mas as coisas eram assim.

A primeira pessoa que ele ia atender era um adolescente metido a emo que achava que todas as pessoas o odiavam. É, ele se identificava com o garoto. Começaram a falar.

-Como foi a sua semana?

-Normal.

-Normal?

-Normal.

-Não vai falar comigo, não?

-Não to afim.

-Você não precisa estar afim para poder fazer isso- disse fazendo aspas enquanto mencionava a palavra afim. Pedro odiava isso. Albert achava graça, mas não podia rir, senão era capaz de levar um soco no meio do rosto do jeito que o garoto era. Então se segurava.

-Tá bom, vou falar. Minha mãe quer me levar no psiquiatra. To muito chateado com ela. Já é uma sacanagem ela me deixar nessa sala com você.

-Obrigada, viu.

-Não é nada contra você. É contra o seu trabalho. Ele é uma extrema burrice. Você é até legal. Vocês ficam aqui a tarde inteira, conversando com as pessoas, sendo que não faz sentido nenhum isso. Certeza que você preferiria escutar música ao invés de estar aqui.

-Pois é, mas estou. E estou te ouvindo falar. Isso não é besteira- ou talvez seja, ele nunca sabia o que falar para esse menino- você se lembra de quando chegou aqui, você mal olhava no meu rosto e não me dizia nada, agora estamos aqui tendo essa conversa. Você entende a importância disso?- ele não diz nada- e talvez sua mãe esteja certa em te levar no psiquiatra- e então ele sai da sala batendo os pés. Albert vai atrás dele pensando ''o que fiz de errado para estar aqui agora?''. Ele sai do prédio e vai para a rua e então se senta no meio dela. Um carro se aproxima- PEDRO!- Albert grita se jogando na frente e tirando o menino de lá.

Continua...

Debora B Ribeiro
Enviado por Debora B Ribeiro em 02/12/2021
Código do texto: T7398289
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