-Por que você não começa por aqui?
-Por que você não começa por aqui?- diz uma pessoa atrás de mim, enquanto tento escrever o texto. É um dia claro e estou sentada numa cafeteria enquanto tento tirar criatividade de onde sei que não tenho para construir essa merda de música, mas nada sai.
-Por onde?
-Por aqui- disse, apontando para uma parte do meu caderno onde estava escrito: Poderei transformar o mundo com as minhas palavras? Está tudo morto- desculpe-me por estar ouvindo você devanear, mas estava muito interessante e você estava falando um pouco alto- então soltou uma risada. Ele parecia interessante, tinha um cabelo que uma vez parecera ser grande e liso escuro, o rosto meio oval, um sorriso e voz penetrante e estridente, mas mansa, que passava o sinal de que estava tudo bem. Eu sorri.
-Nem percebi- sorri novamente.
-A propósito, meu nome é Marcos e o seu?
-Marina.
-Então, Marina. Como tá indo sua escrita?
-Extremamente mal- disse, mostrando a página de caderno toda rabiscada com palavras aleatórias. Ele se aproximou, arredando a cadeira para perto e sorrindo.
-Poesia.
-O que?
-Essas palavras bagunçadas são poesia. Tipo, pegue essa primeira frase rabiscada aqui: Poderei transformar o mundo com as minhas palavras? Está tudo morto.. Depois pegue essas outras: sorrio, choro, sorrio, choro, sorrio...Penso... Em ...tudo que se passou. Você me deixou ir, quando ainda se lembrava de mim... sorrio, choro, sorrio, choro, sorrio....Pronto, poesia.
-Como você fez isso?
-Eu não fiz absolutamente nada, você fez. Só liguei os pontinhos que você deixou, solitários vagando pela pagina rabiscada. Você é a poeta aqui, só não sabe ainda- então ele se levantou e foi embora,saindo pela porta com um sorriso que ao mesmo tempo me encantou, me assustou.