O pulo da gata Lilí.

Este conto, mais um baseado em fatos reais, deveria ter sido originalmente escrito na década de 1980, período em que os acontecimentos se registraram, porém, por questões de observância aos meus princípios éticos, uma vez que se lessem a redação, por certo, concluiriam de quem se tratava, eu poupei do constrangimento a “siamesa”, embora não merecesse. Por quê?

Até o ano de 1979 a gata Lili, de pêlo reluzente e alourado, convivia com seus companheiros demonstrando urbanidade e respeitando a característica individual de cada um, apesar da condição de liderança, pois era a gata que comandava o pedaço onde todos se juntavam, das 8,00 as 17,00 h, com a finalidade única de conseguir rações para si e os respectivos filhotes.

Entretanto, já no início de 1980, ocasião em que o compartimento maior recebeu, como chefe geral de todos os felinos que lá se encontravam, um novo gato de nome Dudu, também de origem “siamesa”, a situação foi gradativamente se modificando, em razão do poder de decisão daquele “gatão, cujo sistema de ação era totalmente oposto ao do gato de nome Goriano, comandante anterior e que havia perdido o poder de chefia, razão pela qual todos os felinos se ressentiram, psicologicamente.

À medida que o tempo passava, o siamês Dudu ia conquistando o seu espaço e sendo admirado pelos simpatizantes, de cujo grupo a gata Lilí fazia parte. Não demorou muito e Lili caiu nas graças de Dudu, passando a ser sua secretária e, posteriormente, sua companheira íntima. Este último detalhe, do qual ninguém tinha nada a haver, é que foi a causa primordial deste conto, pois a partir daí o comportamento de Lilí modificou-se da água para o vinho, pois adotou a regra da distância e superioridade, cobrindo-se de roupagens finas e ignorando aqueles que antes lhe eram próximos e, alguns, considerados amigos.

Para alguns felinos, como o velho gato Lolô, responsável pela redação de cartinhas e bilhetes para gatos externos, bem como o dia a dia dos demais bichanos e bichanas a vida passou a ser vista como uma desolação, em virtude da postura de autoritarismo adotada por Lilí que, por ser a gata incumbida de filtrar tudo que deveria seguir para o Dudu, modificava textos e serviços corretos e que, antes, eram aceitos por ela. Esse clima de discórdia perdurou por um razoável período, isto é, enquanto existiu a união da dupla Dudu e Lilí

Após a sua separação, a Gata Lilí, já alquebrada psicologicamente, foi se reaproximando daquele conjunto de felinos, como se esmolasse a aceitação do regresso de onde, talvez pensasse, não devesse sair.

Para a sua felicidade, Lilí teve o aceitamento da reintegração quase que unânime, uma vez que os gatos por ela abandonados e desprezados mostraram-se diferentes, ou seja, superiores espiritualmente.

Na atualidade, todos os gatos que fazem parte do contexto deste conto estão separados, porém, na época do Natal, se reúnem, imbuídos, tão somente do senso de confraternização, procurando esquecer aqueles péssimos momentos e quando se encontram com Lilí bricam e a abraçam, como se nada tivesse acontecido.

A finalidade precípua deste conto é a de evidenciar que a deslealdade entre companheiros não fere apenas os traídos, machucando mais, a longo prazo, o traidor.

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Demarcy de Freitas Lobato (Em memória)
Enviado por Demarcy de Freitas Lobato (Em memória) em 24/11/2007
Código do texto: T750858