Chegam dois homens... São paramédicos… Paramédicos?Me olham do alto. Cai sem querer num buraco. Um bueiro “aparentemente seguro” e um passo em falso. O esgoto cobre meus pés, baratas tentam subir em meu rosto, degustando sangue... Tudo isso,junto a dor da queda (costelas e pernas) me impedem de emitir respostas inteligíveis às perguntas que vem de cima… apenas delírios. Eles tentam descer... Eles tentam me alcançar, e quando finalmente conseguem eu os vejo melhor… Na verdade não são paramédicos são moradores de rua... que com ajuda de roupas e trapos – numa corda improvisada – tentam me puxar pra cima. Quero dizer que é melhor que peçam socorro e não tentem me mover. Minha voz não sai… mas eles não me dariam ouvidos. Amarram a corda em minha cintura; dois outros chegam e agora quatro me PUXAM com toda força possível. Vou subindo aos berros… Berros? Será mesmo que grito?Posso escutar minha coluna entoando barulhos... Como caixa cheia de pequenas coisas: vidro… Porcelana… minha caixa frágil.Coisas que jamais poderiam ficar como antes.A visão escurece, estou quase morto chegando no topo. A luz e a rua se abrem pra mim… Posso sentir o aroma de plantas e folhas, um cheiro úmido. Cheiro da praça e de vida... Vida? Mistura-se ao cheiro forte dos quatro homens que tentam me salvar. Vejo meu corpo… Vejo?Tento me mover e continuo estático… destruído... Caixa frágil pegada de qualquer jeito. Minha visão escurece e retorna algumas vezes antes de todos se olharem em pânico... Alguém anuncia minha morte. E tomam distância, tristes pelo esforço que foi em vão. Em segundos saem correndo e desaparecem com medo de levarem a culpa.  A caixa frágil despenca outra vez... 

Henrique Britto
Enviado por Henrique Britto em 18/05/2022
Reeditado em 19/05/2022
Código do texto: T7519151
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