Virgínia

Virgínia é dessas mulheres que necessita de romance. Quixotesca, pois de tanto ler livrinhos de romance barato que vive atrás desesperadamente de homens românticos. E homens românticos estão escassos, pois a nova onda feminista mudou a visão dos homens sobre as mulheres. Os homens não buscam mais mulheres submissas, donas de casa. Os homens buscam mulheres que tenham ambições financeiras e profissionais. Mulheres que ganham seus salários e paguem suas contas. No entanto, Virgínia não seguiu a mesma onda avassaladora de seus dias. Virgínia tem necessidade de romance, de um homem que cuide dela e a proteja. Um homem que faça declarações de amor públicas. Ela quer ser tratada como dama e não como uma mulher cheia de si. Na verdade, Virgínia não acredita que existam mulheres emancipadas como dizem as feministas. Não, as mulheres embarcaram numa narrativa furada, narrativa criada por mulheres rancorosas que odeiam os homens. Mas Virgínia ama os homens, deseja os homens, louva o cavalheirismo.

Carlos era extremamente romântico quando namorava Virgínia. Depois do casamento e com sua rotina natural a coisa foi se esfriando. Esfriou em Carlos e não em Virgínia. Virgínia é a mesma mulher, a mesma jovem de quando namorava Carlos. No entanto, Carlos foi consumido pela rotina tediosa da classe média trabalhadora. Virgínia segue sonhadora de cavalheiros e castelos. Carlos segue uma linha reta e repetitiva da existência. Carlos é razão, Virgínia é paixão.

Foi numa praça do bairro que Virgínia conheceu Edgar. E foi Edgar que revelou à Virgínia que seu mundo quixotesco ainda era possível. Precisava de coragem, de ser determinada. Edgar disse que se entregaria totalmente aos seus desejos, pois a vida é curta para o que amamos, mas imensa e dolorosa quando nos sacrificamos, quando nos negamos. Virgínia decidida resolveu seguir uma revolução, não uma revolução coletiva, moralista, progressista; mas uma revolução de si mesma, de ser ela mesma. Dane-se a moral da classe média, a moral cristã, a moral das feministas. Dane-se o mundo e sua rotina pesada e linear. Dane-se Carlos, a família, a sociedade.

No dia combinado, Virgínia pegou a mala, colocou algumas roupas, escreveu um bilhete e deixou em cima da tv e fugiu com Edgar. Fugiu de todos para dentro de si mesma.