Zeca burro

Esta história aconteceu em uma dessas cidadezinhas perdidas por aí.

Pois não é que se uniram em matrimônio a dona Luizinha costureira e o turmeiro José Filinto e desta união nasceu um filho, que recebeu o nome do pai, José Filinto Filho, o Zeca.

Zeca Filinto, o pai, morreu de pneumonia quando o guri fez quatro anos de vida.

Dizem que o menino não batia bem da cabeça, porém, a mãe dizia que ele era feliz e igualzinho ao pai.

E, de fato, o menino Zeca nasceu de bem com a vida.

Apesar do alto astral, quando começou a frequentar o grupo escolar, ele virou o saco de pancadas da gurizada, porém, quanto mais apanhava, mais ria, então os agressores desistiram e largaram ele de mão.

Assim, enquanto o Zeca foi aluno da professora Clotilde aprendeu as letras, os números e conseguiu formar palavras e frases, mas quando foi promovido para a segunda série, deu de cara com a professora Leontina, que queria desentortar a banana, digo, o pobre do Zeca.

A doida da dona Leontina fez o Zeca sentar na primeira classe bem na frente da mesa dela e se o Zeca piscasse já levava uma reguada nas mãos. E não passava dia que o coitado do Zeca não fosse parar ajoelhado no milho atrás da porta. Tanto que o pobre menino acabou gravando na madeira carcomida tudo que lhe vinha na mente, flores, pequenos animais e casinhas.

Então, quando chegou o final daquele ano e o Zeca não soube nadinha de nada das respostas da prova, a descompensada da dona Leontina confeccionou um enorme chapéu de burro e colocou na cabeça do guri na frente da turma toda.

E lá se foi o Zeca com seu chapéu curtir as férias daquele ano escolar.

E andava ele por lá com o chapéu na cabeça, fosse dia, fosse noitinha, fizesse sol ou chuva, fazendo jus ao apelido de Zeca “burro”, que se espalhou na boca do povo.

Mas, se alguém ficou pensando que a história terminaria mal, se enganou redondamente, pois, ao repetir a segunda série, o Zeca se tornou aluno da professora Dora, uma que vinha nova da capital e se tomou de amores pela turma e mais ainda pelo menino.

Astuta e preparada, a professora Dora encaminhou o Zeca pelos caminhos certos e o guri deslanchou nos estudos, se formou e mudou o rumo da própria vida, para a alegria de todos e da querida mãe, que pode ver tudo antes de morrer.

Hoje, quem passa por aquela cidadezinha, até pode ficar curioso ao se deparar com o Hotel Zeca Burro, a borracharia, a farmácia e o posto de gasolina, todos com o mesmo nome e um enorme chapéu iluminado em neon, mas quem mora lá sabe da história todinha e a conta tim, tim, por tim, tim, com o peito estufado de muito orgulho.

Ondina Martins
Enviado por Ondina Martins em 30/06/2022
Reeditado em 30/06/2022
Código do texto: T7549618
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