Foi melhor assim...
Lá dos anos da minha pré-adolescência me vem esta lembrança, que guardo no fundo da minha alma de adulto.
Pois, recém-saídos dos cueiros, porém espertos que nem raposas, eu e meu irmão fizemos um discreto buraco na parede de madeira do nosso quarto, para observar o quarto da prima Glorinha, o que nos permitiu, ao longo dos anos, acompanhar a Glorinha se transformando em uma glória de menina-moça.
Assim, ao cair da noite, era aquela briga de unhas e dentes pelo privilégio de espreitar pela minúscula circunferência daquele filtro mágico, as nuances do maravilhoso corpo feminino, desabrochando como uma flor carnuda e vermelha.
E quando ela finalmente saía do nosso campo de visão, corríamos para o aconchego e a cumplicidade das cobertas, sob as quais finalizávamos freneticamente o processo, que aquelas visões desencadeavam em nossos corpos e mentes.
Então, certo dia houve um alvoroço na casa.
Com os ouvidos colados nas paredes ouvimos a mãe dizer que a Glorinha já era “mocinha”.
Como assim? Mocinha ela sempre foi. Quê história mais estranha...
Duas semanas depois, com aquele olhar de sabe tudo, a mãe soltou uma bomba nas nossas cabeças: “Glorinha vai estudar no colégio interno em Passo Fundo”.
No dia da partida, a danada estava com aquele vestido amarelo de bolinhas, que apertava os seios já grandinhos e fez questão de me abraçar roçando o corpo no meu corpo tremulo e magrinho.
“Eu sempre soube que vocês me espionavam... mas não vou contar para a madrinha, pois eu também vibrava depois... sob os lençóis, seus marotinhos”...
Ao voltarem de Passo Fundo a mãe e o pai nos olharam e concordaram: “foi melhor assim”...
Nem o pai e nem a mãe sentiram a tristeza que sentimos...
Porém, hoje, pensando bem, foi melhor assim.