Planeta Marte

- Táxi, táxi.

- Pois, não. Para onde está indo?

- Eu queria ir ao Planetário...

- Onde fica isso, ali perto dos bares?

- Não, o Planetário. Onde se pode ver o céu, as estrelas e os planetas...

- Planeta, que planeta?

- Planeta, como Marte.

- Mas você quer ir a Marte?

- Não, eu não quero ir a Marte. Eu quero ver Marte.

- Tudo bem então. Porque eu não sei ir para Marte. Mas onde fica este tal de Planetário?

- Ah, é logo ali, perto da universidade, perto do túnel.

- Ah, sim, do outro lado dos bares. Em Marte tem bar?

- Não sei, senhor. Creio que não.

- E as pessoas são legais?

- Não existe vida em Marte. Pelo menos conhecida...

- Como não? Eu vi outro dia na televisão.

- Ahn,..

- É, aquele cara fortão, de nome estranho...zweger.... Ele perseguia seres estranhos que tinham saído de um bar...

- Ah, sim. Mas aquilo é só filme. E se passa no futuro.

- E como que você sabe?

- Porque é ficção científica.

- O que é?

- É imaginação futurista, fazendo projeções de descobertas, inovações tecnológicas...

- Ih, eu acho que você está doidão. Quer saber? Acho que não existe planeta, nem marte, nem estrela, nada disso. Esta história de homem pisando na lua, para mim é tudo invenção de americano. Como é que você disse?

- Ficção científica.

- É, isso mesmo. É tudo ficção científica.

- Tudo bem, tudo bem, mas eu vou ficar no planetário assim mesmo...

Eu me senti muito tentada a fazer do meu personagem um habitante de Marte. Assim, o taxista podia saber, até mais do que nós, sobre Marte. E podia acreditar. Em Marte. Na lua. Nas estrelas. Em ficção científica. E em tudo que fosse sonho. Mas o personagem não sabia mais como explicar Marte. Planetas. Era uma linguagem tão natural para ele. Tão comum. Talvez o que ele precisasse mesmo era reaprender a falar com as pessoas. Para que elas ouvissem. E entendessem...

Daniele Sorris
Enviado por Daniele Sorris em 24/11/2005
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