De Mal a Pior (Dura de Matar II)

Acordou novamente com vontade de morrer. Era sempre assim. Um dia conseguiria.

O marido trocara-a por uma ninfeta.

O cachorro contraira Parvovirose, morrera há dois dias.

Recebera uma ordem de despejo.

Tinha o nome no Serasa, Procon e adjacências.

Tinham-lhe tomado o carro por falta de pagamento.

Foi ao cemitério levar flores à mãe que falecera há um ano e tropeçou numa cova aberta. Não deu noutra, caiu lá dentro, a sete palmos. Faltava só jogarem terra.

Na volta para casa uma pomba cagou em sua cabeça.

Hoje tinha todos os motivos, não ia falhar, faria o serviço.

Pegou a caixinha de sonífero, despejou os comprimidos na mão e...

-Merda! Não me restou nem coragem...Jogou tudo pela janela. Não foi dessa vez.

Espalhou as contas sobre a mesa e foi para o quarto. Lá pelo centésimo carneirinho, adormeceu.

No outro dia percebeu algo diferente: A casa estava com a porta entreaberta, gavetas reviradas, geladeira aberta... Tinha entrado ladrão...

Em cima da mesa, ao lado das contas, um bilhete chamou sua atenção:

"Que urucubaca minha senhora! Não se preocupe, não vou levar nada...Deixei uma pequena ajuda para as despesas". Duas notas de cem reais cintilavam junto aos papéis...