DANÇA AO VENTO

Ah, era tão fácil para eu me apaixonar... Bastava um olhar, um sorrisinho cheio de quintas intenções e pimba! Lá estava eu, totalmente encantada pelo primeiro que aparecia. Eu não me importava com o que os outros diziam. Se o cara era cafajeste, gostava de ficar em um bar bebendo cerveja até altas horas, mulherengo... nada eu escutava. Não acreditava em ninguém. Só ouvia meu coração. E acho que ele sempre foi o culpado de todos os meus desgostos.

Quando me apaixonei pelo Nando foi a mesma coisa. Alto, moreno, cabelo pelos ombros. Um gato. Fiquei fascinada no primeiro olhar. Meu tipo! Ele logo demonstrou interesse também e a impressão que eu tenho é que a gente começou a namorar logo depois do primeiro beijo.

Nunca em toda minha vida eu namorei um homem tão bonito, daqueles que causam torcicolos nas mulheres para vê-lo passar. Lógico, enfrentei uma enxurrada de conselhos tipo “ele não é para você, é muito mais novo, só quer saber do seu dinheiro” e coisas que me incomodaram mais desta vez. Sim, porque eu estava realmente apaixonada. Meus olhos eram dois corações pulsando, por onde eu ia, só enxergava o Nando. E quando estávamos juntos, eu ria de qualquer coisa, de tudo e de todos, porque com ele eu me sentia envolta em magia. Meu feitiço era o Nando. Minha vida era ele. Tudo o que eu fazia era por causa dele e por ele. Desde a roupa que eu vestia até a pulseira que eu usava. Se eu comprasse um livro era para que ele me achasse culta. Quando eu cantava, tentava aperfeiçoar minha voz para que ele pudesse dizer aos amigos que tinha uma namorada que sabia cantar melhor que muita cantora que tem por aí. Minha vida era ele. Eu só faltava dançar ao vento. E houve algumas vezes que dancei mesmo, na beira da praia, a areia fininha sob meus pés, as ondas molhando meu corpo. Dancei ao vento de alma lavada. Eu tinha descoberto meu amor, minha cara-metade, minha alma gêmea. Eu era tão feliz que às vezes me sentia culpada por tanta felicidade em uma pessoa só.

Mas na minha experiência com tantas paixões, eu esqueci que um dia ela se vai. O Nando foi parando de me agradar, aos pouquinhos parou de dormir agarradinho em mim e começou a inventar desculpas para não ficar mais as noites em meu apartamento. No início aceitei, com o pé atrás. Depois, como tudo foi ficando freqüente demais, fui tomada por um frenesi. O Nando não queria mais saber de mim! Só podia ser isto! Então, enlouquecida, comecei a vasculhar os bolsos dele, a carteira, o celular. Encontrei mensagens suspeitas de uma tal de Débora. Débora? Quem era Débora? Eu queria ter uma conversa franca e aberta com o Nando, botar os pingos nos ii, mas me faltava coragem. E se ele se aproveitasse da situação para pedir as contas? Eu não iria suportar, logo depois de gritar para todo mundo que daquela vez eu tinha encontrado o homem certo.

Um belo dia, então, o Nando não cumpriu com o combinado. Disse que se encontraria comigo na casa da minha avó para o tradicional almoço de domingo. Não apareceu nem para o café da tarde. Ensaiei desculpas, menti desvairadamente e desertei da reunião familiar logo que pude. Cheguei em casa e chorei todas as minhas lágrimas. Naquele domingo não tive notícias do Nando. E nem nunca mais. O cara sumiu, escafedeu-se. Levei mais de dois meses para me recuperar da dor de ter sido abandonada sem mais nem menos. Engordei, emagreci. Tingi os cabelos de loiro, depois deixei ruivo. Minhas amigas observavam meus processos de mudança, uma desesperada tentativa de me reencontrar depois daquele pé na bunda. Não sei me encontrei. Só sei que ele sumiu. Às vezes fico me dizendo que ele morreu, não acharam o corpo e isto explica o sumiço. Quem sabe foi abduzido? É, esta é uma boa resposta. Meu coração até pode aceitar que ele foi seqüestrado por seres alienígenas. Melhor que enfrentar a realidade de que ele partiu porque enjoou da minha cara ou se encantou por alguma garota mais nova que eu. O certo é que aqueles dois coraçõezinhos que brilhavam nos meus olhos se transformaram em mármore. E o mais triste de tudo, nunca mais dancei ao vento.

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 22/06/2008
Código do texto: T1045801