Minhas meninas

(Fragmento)

É tarde. Hora de dormir. Mas uma mãe nunca dorme de verdade. Pensar nos filhos às vezes nos dá uma aflição danada. São tantas preocupações que nos consomem na hora de pôr a cabeça no travesseiro, que muitas vezes atravessamos a madrugada sem pregar os olhos. Será que elas estão bem? Sentem alguma coisa? Pesadelos?

Ontem mesmo minha barriga estava enorme. Eu, tão magrinha e delicada, com aquela barriga imensa. Sentia os chutes gostosos dentro de mim, da minha vida se mexendo dentro de mim. Ainda ontem Teresa nasceu cheia de vida, roubando todas as atenções e amor que havia. Minha pequena Teresa, tão branquinha e meiga. Perfeita. Um pedaço de alegria gerada por mim, tão imperfeita. Reinava absoluta com seus risinhos tímidos, com seu olhar piedoso. Ainda ontem minha barriga estava enorme de novo. Desta vez à espera por Juliana. Tão delicada quanto à irmã, com seus olhos vivos e sorriso constante. Minhas duas meninas no mundo, dois pedaços meus separados do corpo.

Eu queria protegê-las do mundo perigoso, por isso as cobri com minhas asas. Por serem tão curtas, aproximei-as de mim, agarrando-lhes sem deixar que se afastassem um centímetro que fosse para longe dos meus olhos atentos. Se eu pudesse, não as deixava nem por um único segundo, mas a vida não nos deixa fazer tudo o que queremos. Eu precisava de um tempo distante dos meus bens mais preciosos. E eu ia ao trabalho, mas ficava em casa no pensamento. No que as minhas queridas faziam na minha forçada ausência.

Era duro sentir a saudade consumir minhas forças. Mas ao chegar do trabalho meu coração se acalmava, quando os quatro bracinhos me apertavam com força. Carregava-as no colo, rodopiava-as pela casa numa alegria contagiante. Eu e minhas filhas, três corpos separados, mas unidos no amor.

(...)