SAUDADES DE UMA INFÂNCIA FELIZ

Quando eu era criança, me criei correndo na rua em que morava. Subia em árvores, muros, brincava de pega-pega, esconde-esconde... Eu levava minhas bonecas para fora de casa, me juntava com minhas amiguinhas e a gente inventava um mundo só nosso. Não havia computadores, Internet, TV a cabo. Eu me contentava com a nossa televisão simples, com os desenhos inocentes e em brincar com meus irmãozinhos menores. Uma infância feliz. Eu era feliz e não sabia. Ser feliz era meu estado de espírito. E ser feliz era algo extremamente normal para mim.

Mas um dia meu pai foi promovido e nos mudamos para outro Estado. Tudo ficou diferente. De repente, nos vimos morando em uma casa grande, cercada de grades. Meu pai comprou um carro novo, ganhamos roupas melhores, comecei a estudar em escolas particulares. Era uma vida boa, só que algo estava faltando e eu não sabia bem o que era.

Fui crescendo, tornei-me uma adolescente fútil e superficial. Eu era rica. Tinha tudo o que eu queria. Fiz 18 anos e ganhei um carro. As minhas amizades também eram superficiais. Festas, badalação. Eu acreditava que gostavam de mim apenas pelo dinheiro do meu pai. Às vezes eu lembrava da minha infância e sentia saudade daqueles tempos. As coisas eram tão simples...

Cresci mais ainda. Um dia me vi com trinta anos de idade, formada e divorciada. Constantemente vinham a minha mente imagens de quando eu era criança. E foi me batendo uma saudade de casa. Sim, de casa. Minha casa tinha ficado para trás. Quando as lembranças começaram a doer demais, eu resolvi voltar. Queria saber se minhas amiguinhas ainda viviam por lá, se os canteiros de flores continuavam os mesmos e se minha antiga casa estava de pé. Peguei o primeiro avião e fui.

Mas nem minha cidade era mais a mesma. Como eu nunca pude adivinhar que minha cidade natal teria crescido? Ela cresceu. Os prédios encostavam no céu. O ar já não era tão límpido. Eu não via mais um sorriso no rosto das pessoas.

Com o coração apertado, peguei um táxi e pedi para o motorista me deixar na esquina da minha antiga rua. Não havia mais casas. No lugar da minha, erguia-se um prédio de dez andares. Dez andares! As árvores que eu escalava pareciam tristes com o progresso. Não encontrei ninguém que eu conhecesse. Pudera, aquilo não era mais o lugar em que eu havia nascido. Não reconheci aqueles lugares como minha rua e nem como minha cidade. Antes que eu chorasse, dei meia volta e fui direto para o aeroporto. Não quero mais voltar para lá. Mas também sinto que não tenho para onde ir.

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 25/10/2008
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