O Sinal.

Desconcertante.

Débora atravessava a rua com seus passos largos e despreocupados e com aquele olhar de quem sabe onde quer chegar, e como se não fosse o bastante, o fazia com graça, com um balanço natural, que faria Vinícius reinventar a bossa nova e querer se casar pela décima vez.

Seu vestido branco, de alcinhas, tinha sua parte mais próxima ao chão na altura de suas coxas muito bem delineadas, e a cada passo, acariciava-lhe a pele com inocência e suavidade, ao mesmo tempo em que criava as mais pecaminosas expectativas, e ela seguia impassível aos olhares, sentia apenas o vento lhe tocar o rosto provocando agradáveis sensações e pensamentos que lhe causavam um leve e despretensioso sorriso, mas que seria o suficiente pra fazer seu coração disparar, e quando ela passasse, talvez ele quisesse parar uns segundos, mas não importa, agora ela alcança a calçada e os carros passam no sinal que está verde, porém nota-se pouca vontade de prosseguir nos veículos, que passam lentos ao seu lado.

Um jovem põe a cabeça pra fora e pensa ter visto Afrodite em pessoa.

Um motorista esquece a presença da esposa e ganha um olho roxo.

O sinal muda para amarelo.

Débora segue tranqüila, ajeita as tiras da sandália, mais linda a cada passo.

Um motoboy passa rente a calçada, o vento revela a visão do Paraíso e ele se cega, o sinal fica vermelho, ela olha, ele se choca em um carro e voa torpe, depois cai num baque surdo no cruzamento onde os carros derrapam e se engavetam uns aos outros, ela segue, entra em um ônibus e desaparece.

Débora já havia partido uns corações sem querer, agora tinha umas costelas, tíbias e automotores no currículo.