Contos Uivantes 4

O corpo, por natureza esguia, pediu-me ação e caminhei encosta da montanha abaixo, sol a pino, lei da gravidade me impulsionando, até que avistei ao longo, bem longe, uma romaria poro alguém que não mais vive entre nós, que foi calcar as terras celestes; vida nova além e aquém. Não lhe via a face distante, cujo semblante deveria ser bem tranqüilo, premiada pela tarefa cumprida, mas sempre me perguntei quando mais jovem, porque os que morrem parecem dormir o sono dos justos, e todos? Deve ser bom morrer para renascer à eternidade, mas porque ninguém quer partir eSpontaneamente, embora sabendo que a partida é inevitável?

O vento uivante me traz a melodia chorada dos entristecidos com o desígnio divino, que apesar de se reconhecerem guiados por Deus, evidenciam sua melancólica revolta nas lágrimas choramingadas.

Eu suando de frio por medo de despencar da montanha íngreme para a eternidade, e ser um motivo a mais choros! Por este irmão aí que se foi, perdoe-me alguém se devesse eu chorar, mas não chorei, não chorarei. Talvez de uma vida sonhada, uns de mim se compadeçam em vão, quando eu me for. Não em vão não, pois ao morrer, a minha estrada se abrirá para o inusitado, a exemplo deste aí, que, certamente esteja exultando a nova empreitada de Luz\.

A relva continua verde, crescendo fresca, o chão continua espichando cada vez mais o calor do sol, as doçuras de esperança continuam adocicando as almas bondosas, mãos continuam se esticando para o toque de4 amor, e a vida continua, antes e mesmo depois da vida.

É minha sorte crer que meu amigo, vento delicioso, estará sempre comigo, aonde quer que eu esteja.

Santos-SP-08/04/2006

Inês Marucci
Enviado por Inês Marucci em 08/04/2006
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