O CASAMENTO NORDESTINO (FINAL)

- Joca das galinhas, Joca das galinhas, seu cabra safado! Você me deu uma pontinha da história do casamento, eu me empolguei, escrevi a pontinha da história lhe dediquei a história no Recanto das Letras como todo mundo já sabe, prometi crontar o resto, você “seu safado” ficou me engordurando, me enrolando com um deixe eu me lembrar direito, já se passaram meses, eu não consigo escrever nada nadinha por que não me concentro em outra coisa, “seu filho da puta” eu euzinho só saio daqui hoje depois que você me contar tudo, ou se não nossa amizade de tantos anos se acaba aqui, agora.

Vou dizer ao pessoal do recanto que foi tudo mentira sua, que você me fez de besta, usou da minha ingenuidade de crontista para passar gato por lebre, atitude de vigarista...

- Calma, calma! Meu jovem conspícuo, Me respeite seu cabra. Olhe, me diga, a coisa tá séria assim. Está todo mundo esperando?

- Olhe aqui! Estou cheio de você, de suas coisas, de suas mentiras e ainda me vem com essa história de meu jovem conspícuo. Está querendo me irritar, rapaz? Pois já conseguiu, pronto, agora quero o resto da história.

- Calma, calma home! Tenho idade de ser seu pai e quer saber no primeiro dia do Ano Novo. Num é bom começar assim 2009, meu compadre.

Vamos lá, deseje aos seus coleguinhas do recanto um Feliz Ano novo de paz, amizade e prosperidade e depois eu conto o resto da história.

- Coleguinhas o que! Rapaz, são meus amigos pela alma. Num quer que eu pague nenhum mico, não é? Promete?

- Prometo.

- Tá bom, tá bom!

Aos meus coleguinhas do Recanto das Letras, em especial Claraluna, Evelyne Maria, Ângela Rodrigues, Raimundo Antonio, que por intermédio deles desejo o todos os recantistas um ano de amizade, paz e prosperidade e que o Grande Arquiteto do Universo nos ilumine e guarde, a nós a todos os nossos familiares, amigos e os do nosso entorno.

- Bonito, rapaz, bonito. Gostei.

- A história.

- Você não vai acreditar.

- Não tem problema, tem amigo safado e mentiroso quem pode, e não me enrola, com meu jovem conspícuo. Narrativa simples, você vende galinhas, lembra?

- Meu Jovem conspícuo, nem eu mesmo, quando relembro consigo acreditar cem por cento.

Estava ali presente e vi tudo mas ao mesmo tempo senti-me num espetáculo de ilusionismo. Onde a fantasia nos confunde escondendo o real ou o real nos confunde escondendo a fantasia e só acreditamos por que estamos vivendo.

- Ih! Tá me enrolando. A história Joca.

- A história, meu jovem conspícuo, é a que menos tem importância. Contaria com três ou quatro palavras. Quero lhe relatar o clímax que envolvera aquele dia especial. As forças que regem o universo em conspiração atípica num só dia.

Era um dia sábado de vento claro que com certeza as nuvens no céu de algodão que cobriam aquele pedaço de mundo agreste, compunha o cenário de ilusão e fantasia. O encanto da paisagem oferecia o toque final para o quadro perfeito. O olho do Divino sempre atento cuidou dos retoques com os dedos da própria mão.

A feira livre fervilhava vigorosa de negócios e interesses diversos. Todos vendiam tudo. Adormecia num breve silêncio e logo era acordada aos sopapos de vozes roucas e estridentes dos vendedores de tudo: “macaxeeeeera! - um mil réis. Moça bonita não paga também não leva.” – banana, bacaxi e bacate, um mil réis. A rapadura é grátis. Leve moça do vestido listrado.

Aboiadores: Bezerro de vaca preta onça pintada não come / Quem casar com mulher bonita, quinze dias sem ter fome/ Quem casar com mulher feia não tem medo de outro homem! Ô boi ô, ô, ê vaca melada.

Era um dia de sábado muito especial. Até por que essa agitação toda tinha um motivo também muito especial. - Ah! Estava até me esquecendo, deve ser emoção, naquele mesmo dia estava marcada a visita do Tio Sam, é! do Tio Sam o americano do norte. Havia se oferecido para vir ao Brasil, mais especificamente para feira de Surubim, para fazer uma espécie de espionagem, pois os seus “cupixas” das ONGs que financiava lhe informaram que a feira de Surubim era tudo disposto em ordem alfabética desde “rreios” de animais até “zeite” de por fogo em fogueira.

Idéia do Prof. Solon de Medeiros Filho (de Patos) que defendia a tese de que até no super mercado as mulheres deviam fazer as compras em ordem alfabética começando pela letra "a" de aguardente, arroz, abano... bolacha, biscoito, banana... carne, chapéu, e terminando pelo "z" de zíper, zero cal etc.

Acham até que o organizado comércio americano deve-se a essa visita do Tio Sam ao meu querido Surubim.

O fato é que a cidade toda estava enfeitada de bandeira Norte Americanas, o prefeito vestido até de gravata borboleta junto com um monte de puxa sacos em posição de autoridade apreensiva, cabeça olhando o chão com o queixo quase descansando no peito erguido olhando o fim da rua e as mãos descansando na poupa da bunda empinada para trás. Esperando o carro do tal Tio Sam.

Enquanto isso naquele cantinho de universo, diga-se de passagem um cantinho de nada “nadica” de nada, estava Maneco terto e Tereza numa luta do orgulho e da paixão preste a ser eleito vencedor o amor.

- Cabra safado mentiroso!

- Já deu uma lauda foi? Posso terminar a história outra hora se quiser.

- Não, não, não! Vamos lá, continue.

- Eu e Pedro Caboclo estávamos perto escutávamos tudo. Logo Maneco ficava vermelho que só um camarão, quando era desafiado. Não demorou muito D. Quitéria do miúdo de porco que escuta tudo e o barato sai caro. Daí pra frente como faísca de fogo em palha seca, a boa nova se espalhou no rastro da pólvora e por onde Maneco e Tereza passavam a caminho da Igreja de São José, a pergunta de para onde vão? A curiosidade incrédula e a resposta de "vamos casar agora" e um sentimento geral de que essa eu não vou perder ia engrossando o cortejo arrastado tal qual cauda de vestido de noiva a caminho do altar. Logo, logo seguiam Maneco e Tereza deixando suas bancas de negócio e a feira ficou vazia.

Os bancos de feira, as pilhas de frutas as gavetas com os trocados de montes desarrumados às mocas diga-se poucas moscas.

Todos estavam na igreja assistindo uma confusão maior ainda.

Maneco ás voltas com o Padre que dizia não poder fazer o casamento por que não havia corrido os banhos na paróquia e a cada argumento e recusa um oh! De indignação de todos os presentes.

Quando Maneco em tom ameaçador disse: Padre ou o Sr. faz nosso casamento agora ou vou suspender minhas doações a sua Igreja. Houve um OH! Geral.

E um silêncio daqueles que antecede a toda explosão.

- Zezinho! Traga-me os paramentos não vês que o Sr. Maneco tem pressa. Sr. Maneco, Sr. Maneco.

- Diga Padre!

- Precisamos que dobre suas doações, o Sr. tem nos dado muito trabalho.

Um êh geral incendiou de alegria a Matriz de São José que explodiu em palmas, manifestação sincera e gentil do coração do povo da minha terra.

Eu tomava conta da sacola de compras que Tereza deixara à porta da Igreja. E dali, sou testemunha da chegada do Tio Sam e sua comitiva que encontrou a feira sem ninguém. O prefeito e seus baba ovos logo acudiu ao espanto do ilustre visitante.

- Prefeito Nelson Barbosa a feira é sem ninguém?

- Não, não, não Dr. Tio Sam é ................... é que todos aqui passam antes pela Igreja para rezar, ..........é costume da terra....................

Disse empinando o bucho pra frente e descansando os polegares nos bolsos do colete.

O sino badalou quebrou finalmente o silêncio.

E “Chico banguélinho” saiu gritando pela porta da Igreja

- Maneco Terto e Dona Tereza casou! Agorinha mesmo.

Levando a notícia pelos ventos em seu caminhar apressado.

Todos voltaram para os seus pequenos negócios na feira e João Neco rasgou a sanfona no pátio em frente ao box de Maneco.

A feira que sempre terminava das quatro pras cinco da tarde, terminou. mas a festa do sanfoneiro foi até o dia seguinte, acho que foi por causa do tal Tio Sam.

- Joca, tudo isso é mentira, não é?

- Eu disse que você não ia acreditar, mas foi verdade.

- Jura? Então foi assim o casamento de meu pai? Posso publicar?

- Juro! Pode publicar.

Colocou o dedo em cruz beijando a boca, duas vezes com as mãos invertidas.

Crontei

Depois eu cronto mais.

Manuel Oliveira
Enviado por Manuel Oliveira em 01/01/2009
Código do texto: T1362732