O VERDADEIRO SENTIDO DA VIDA PARTE I

As duas passeavam tranqüilas pelas ruas da cidade. Juliana aproveitou a manhã de sol para fazer as compras do final de mês levando junto sua filha Ofélia; uma graciosa menina de cinco anos de idade que sempre acompanhava a mãe nesses passeios, tagarelando sem parar. As compras feitas, tudo acertado com o dono do empório onde Juliana era freguesa; resolveram descansar um pouco na pracinha. Ofélia, sempre observadora, reparou com interesse as pessoas que freqüentavam o local, atenta às conversas, - fofocas em sua maioria - e a cada comentário que ouvia, questionava a mãe o porquê de certas palavras. Juliana, pacientemente, respondia às perguntas da filha dando uma explicação que a satisfizesse, sempre agregando alguma lição de moral para enriquecer seus comentários.

— Mamãe! Compra um sorvete? — perguntou Ofélia, vendo um sorveteiro que comercializava na praça —.

— Claro, filha! Qual sabor que você vai querer?

— Eu quero de baunilha!

Juliana sempre solícita aos desejos da filha mimada atendeu seu pedido. Comprou dois sorvetes. Em seguida as duas foram se aconchegar sob a sombra fresca de um Ipê velho e definhado pelos longos anos de existência. Enquanto mãe e filha distraidamente degustavam o refrescante sorvete, notaram a aproximação de duas senhoras bem vestidas que após cumprimentá-las, acomodaram-se num banco próximo. As duas companheiras discutiam sobre vários assuntos numa conversa um tanto exaltada, sob o olhar atento e os ouvidos afinados de Ofélia. Vez por outra, a menina lançava um olhar assustado para a mãe que imperceptivelmente, fazia um discreto gesto solicitando silêncio à filha.

Depois de alguns minutos, as mulheres se retiraram. Ofélia rapidamente, perguntou para sua mãe porque aquelas senhoras estavam tão irritadas. Calmamente, Juliana disse que elas reclamavam porque ainda não haviam compreendido o verdadeiro sentido da vida.

— O quê quer dizer isso mamãe?

— Você ainda é muito nova para entender Ofélia. Um dia eu te explicarei melhor.

— Explica agora mamãe! Eu já sou quase uma moça. Se você me explicar eu sou capaz de entender tudinho.

— Está bem, Ofélia – disse Juliana divertida com a esperteza da filha – O que eu quis dizer, é que Deus nos deu essa vida maravilhosa, para nós desfrutarmos de todas as coisas que possuímos e, de tudo que nos acontece, seja algo bom ou ruim. Tudo nos é dado para nosso próprio engrandecimento. Entendeu?

— Acho que sim! A senhora quer dizer que devemos apreciar o sorvete, o refrigerante e, se levarmos um tombo e machucarmos o joelho, não devemos importar porque, logo, logo, isso sara não é?

— Sim minha filha, é isso mesmo. Agora, vamos embora porque já está entardecendo.

Essa relação afetuosa entre mãe e filha se estendeu por muitos anos, até que Ofélia, – agora já moça feita - linda e espirituosa, terminava o último período da Faculdade de Direito. A jovem continuava a ser o orgulho dos pais. Moça equilibrada, devota de Nossa Senhora de Guadalupe; dotada de um comportamento irrepreensível. Era admirada e assediada pelos rapazes, por ser detentora de uma beleza incomum às jovens da pequena cidade onde residia. Os meses foram passando até que chegou o tão esperado dia da formatura. Ofélia radiante pela conquista do diploma a muito esperado, conseguido com esforço e grande dificuldade devido aos constantes apertos financeiros pelos quais passavam seus pais; a todo momento agradecia a Deus e à santa de Guadalupe.

Gilberto Feliciano de Oliveira
Enviado por Gilberto Feliciano de Oliveira em 21/01/2009
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