O VERDADEIRO SENTIDO DA VIDA PARTE II

“A vida da gente é mesmo repleta de surpresas; ela nos proporciona grandes emoções, prazeres incontáveis e o que precisamos nessa trilha de ilusões e sobrevivência. Só que a vida também nos cobra o tributo por essas concessões. Algumas vezes, o valor a ser pago é muito alto e nos faz pensar se o preço não é excessivo por demais”. Esse era o pensamento de Ofélia, ao meditar sobre os últimos acontecimentos que marcaram de forma cruel e definitiva, sua vida e seus projetos futuros.

Deitada no leito frio e asséptico do hospital, ela tentava esquecer o trágico acidente que lhe ceifou a perna direita. Por mais que tentasse, Ofélia não tirava da mente o momento fatídico, quando ela sentiu que um pedaço do seu corpo era arrancado de forma violenta. Não sentiu muita dor, só o impacto do momento, após o qual, ela mergulhou na escuridão e não teve consciência de mais nada.

Aquele passeio inocente ao campo junto dos amigos jovens e cheios de sonhos, havia proporcionado à Ofélia a angustia e os sofrimentos mais terríveis que um ser humano é capaz de tolerar com paciência e resignação, como fazia a jovem sonhadora e dinâmica advogada. Nesse instante, só o que lhe ocupava a mente, era a perspectiva de ver aqueles momentos trágicos se desvanecerem com o passar rápido do tempo, voltar a sonhar, e por em prática seus projetos de vida futuros. Os meses foram passando, os dias foram passando, as horas foram passando. Cada dia, Ofélia se sentia mais constrangida, mais triste e mais decepcionada com a vida que lhe fora tão maravilhosa em determinada época e, tão cruel em outra. A dependência constante da ajuda da irmã que era fiel e paciente com ela, fazia Ofélia cair em depressão por estar nessa condição de ser vegetativo. Estava incapaz de executar as tarefas básicas, banais e bem constrangedoras quando executadas por outra pessoa, como: a higiene pessoal, por exemplo. Mas fazer o quê? Pensava ela. Eu tenho é que agradecer a Deus por ter a ajuda de minha irmã, em vez de ficar lamentando.

Porém, não foi só esse infortúnio que aconteceu à Ofélia. Mais um fato bastante triste, veio para acabar de vez com o ânimo da jovem enferma. O namorado tão querido e amado, aos poucos foi se afastando, até que sumiu de vez. Após certo tempo, ela soube por uma amiga que ele havia desposado outra jovem. Isso feriu ainda mais o coração já dilacerado da moça.

O furacão passou. O tempo se acalmou e, o sol da esperança outra vez veio aquecer-lhe o coração. Aconteceu que numa noite, quando ela saiu com as amigas para uma noitada dançante, teve a felicidade de conhecer um senhor já bastante vivido. Ele possuía cabelos encaracolados, grisalhos nas têmporas, o que denotava uma idade qualquer acima dos quarenta, compatível com os trinta e poucos anos de Ofélia. O homem vez por outra, lançava olhares penetrantes sobre ela enquanto bebericava seu uísque importado. Após vários olhares, o cavalheiro resolveu aproveitar um momento de solidão da jovem dama; aproximou-se murmurando um cumprimento um tanto surdo e educado. Ofélia sorriu mediante a timidez do desconhecido e respondeu ao cumprimento. Em resumo da questão, os dois saíram dali, e se encontraram várias outras vezes, o que culminou em um casamento bastante feliz, coroado de alegria e realizações. O maior presente que Ofélia recebeu, foi a gravidez e o parto de uma linda garota, de olhos castanhos e cabelos cacheados, como os do pai.

A menina crescia com saúde e disposição, herdada da mãe. Curiosa e espirituosa. Certo dia, quando Ofélia se preparava para colocar-lhe um vestido rendado, após o banho que deixou encharcado tanto o banheiro como o quarto, Marisa observando a mãe comentou alegre:

— Mamãe, eu quero ter um “pótese” igual a sua quando eu clescer.

— É prótese minha filha! E nunca mais diga uma bobagem dessa, está bem?

— Sim mamãe! Mas por que você não quer que eu tenha uma igual? Se você parece boneca, eu também quero parecer.

— Ora minha filha! Eu não tenho essa prótese, porque eu quero; se pudesse, gostaria de ter pernas lindas iguais as suas viu?

— Mamãe, por que você não fica triste por causa da “pótese”?

— Eu não fico triste, Marisa, porque eu descobri o verdadeiro sentido da vida.

— O quê é isso, mamãe?

Ofélia abraçou a filha, beijou com carinho suas bochechas gordas, e disse com os olhos marejados:

— O verdadeiro sentido da vida, filhinha, é ser feliz apesar das circunstâncias.

— Circu...o quê?

— Circunstâncias, filha. È tudo o que nos acontece tanto de bom, quanto de ruim. Agora, vamos terminar de colocar esse vestido porque o papai já está chegando. Se apressarmos, ainda podemos encontrá-lo no portão.

FIM

Gilberto Feliciano de Oliveira
Enviado por Gilberto Feliciano de Oliveira em 21/01/2009
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