A HORA DA VIDA

É a mesma hora. A hora de todos nós num lugar sem história, onde

a aurora é quase sempre triste.

O acordar, melancolia inesperada, temendo a última palavra sobre

o mundo. Mas a água no rosto convida para o dia, para a guerra suja

do viver.

Viver. O dia avançando para as obrigações inadiáveis. A oração

que se esquece. Café com pão enchendo a barriga e um poema de

Maiacovski levantando a coragem.

As mãos que produzem riquezas faz tempo que estão despertas.

Por necessidade. Por medo.

No caminho, os operários contemplam a paisagem. Carregam muita

esperança de um bom dia. "Um bom dia é um dia sem acidentes" Ah,

o ocidente!

Os ônibus estão lotados. É sempre assim, nunca muda. O que fa-

zer? É preciso chegar ao roçado porque o pão nunca vem de graça.

Chega gastando suor, sangue e lágrimas. Certeza universal.

E também se ama. O amor foi bom na noite que passou e aliviou as

angústias do dia maldito.

O mesmo uniforme. A mesma função. Os mesmos gestos que se

repetem. E já são tantos os anos...

Ainda existe o meio-dia para se matar a fome. Descanso a esperar

o continuar das angústias.

Tarde sadia e amorosa. Antecipando os fascínios da noite misterio-

sa a negar a possibilidade de feliz solidão.

Talvez haja sonhos e os sonhos ajudam a enfrentar a hora inicial

do novo dia.

A mesma hora que existiu hoje!

JOAQUIM RICARDO
Enviado por JOAQUIM RICARDO em 14/02/2009
Código do texto: T1439279
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.