O pardal (1ª parte)

Abri os olhos assustado sonhando que era um passarinho,

daquele jeito que você não sabe se está sonhando dormindo,

ou acordado sonhando de olhos abertos, vivendo uma alucinação,

e decididamente ser um pardal não era uma escolha muito boa,

por que afinal o que é um pardal em verdade?

é um passáro de penas amarronzadas, pequenino e com cara de sono,

parece muito com uma rolinha e de fato, nem sei qual a diferença entre eles,

não é um pássaro altivo como um falcão maltês, clássico de filmes,

não é um pássaro romântico como um pombo correio à levar mensagens aos amantes,

não é um pássaro bonito como o sabiá laranjeira refletindo o amarelo do sol em seu peito,

não é um pássaro cantante como o canário que esteve até num conto de Machado de Assis,

um pardal é simplesmente um pardal, uma espécie de "vírgula" na frase,

homenageado por acaso numa máquina que multa os motoristas apressadinhos,

e se não tiver cuidado, acaba assado na farofa de algum moleque com estilingue,

dentre tantos pássaros terminar sonhando ser um pardal não pode ser um sinal,

ou pode? Mas como não sou um bom leitor de sonhos, melhor tentar acordar,

melhor ainda ter cuidado com os fios de alta tensão pois a época é de chuvas,

e muito cuidado em me esquivar dos predadores naturais que procuram alimento,

o mundo parece uma imensidão diante de meus olhos tão pequenos,

voarão os pardais para o norte quando o inverno chegar? Pois já estamos na América do Sul,

não sei, mas acho que teria uma rota certa para meu vôo se minhas asas não fossem tão curtas...

PS: Não deixe de ler a 2ª parte para a compreensão do conto.