FELICIDADE NUM CINZEIRO

No nono mês do ano, um meio sorriso em todos os rostos se torna comum nas ruas da cidade de Belém. As mangueiras estão verdinhas, flores dos canteiros exalam um aroma paraense. Nessa época, crianças se debruçam nas janelas e sorriem à toa.

Da janela do quinto andar, Sabá delicia a paisagem e o cheiro do vento. Por acaso, ou não, ele percebe numa outra janela do bloco em frente ao seu um homem olhando para o alto e uma flor de menina andando apressadamente de um lado para o outro no centro do cômodo, seu irmão olha a cena e dá meia-volta. Era de costume, à tardinha, o homem se esticar sobre aquela janela e a garota iniciar seu caminhar de um lado para outro, enquanto Sabá observava. Já havia perdido as contas das vezes que a cena se repetia.

Numa manhã, contrariando a rotina, foi uma mulher, supostamente a mãe da pequena, que abriu a janela e carregava para aquele espaço dois pacotes coloridos. Puxou bem as cortinas de modo que os móveis ficassem a vista do observador. Sabá viu sobre a cama os pacotes. Dali a alguns minutos a garotinha entra correndo no quarto e com euforia, entre sorrisos abre as embalagens e em seguida recebe abraços da mãe e do irmão mais velho. Enquanto o companheiro das tardes na janela esperava imóvel com um pequeno objeto nas mãos.

Uma sensação de alegria tomava conta do vizinho vigilante que participava daquele momento lá da sua janela. Quantos anos estaria completando?

Seis talvez a julgar pela altura da criança. O pai da menininha se aproxima devagar e aparentemente nervoso e lhe entrega o objeto sem falar nada. Pela priemeira vez ela não caminhou agitada diante do pai, e sim deu pulos de alegria, vibrando com os braços e rodando repetidamente pelo quarto com um sorriso enorme no rosto. Aquietou-se. Olhou para o pai e foi até a janela. Analisou o espaço lá embaixo, verificou se não passava alguém e não teve dúvidas: segurou o presente com as duas mãos, levantou os braços, esticou-os para fora, olhou de novo para o pai, fechou os olhos. Neste momento Sabá reconheceu o que estava nas mãos dela: um cinzeiro. A aniversariante se desfez daquele presente atirando-o pela janela. E com os olhos e sorrisos acompanhou a trajetória do artefato até sua explosão. Toda família veio olhar, e sairam calados e calmamente do quarto.

Daquele dia em diante, Sabá, em suas tardes de comtemplação dos arredores, sempre dirigia um olhar para aquela janela e notou que o vizinho por não ter mais o seu cinzeiro deu fim ao vício e a inquietação da menina.

Eveluz
Enviado por Eveluz em 23/05/2009
Reeditado em 27/05/2009
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