Engenheiro Mendigo (Parte I)

Engenheiro

Era uma vez um engenheiro bem sucedido. Um líder entre colegas, uma pedra no sapato do seu superior. Um nerd e um yuppie, ambicioso e confiante. Casou-se com a filha de um fazendeiro, herdeira de uma pequena fortuna, e mais que isso uma linda mulher cobiçada por todos os homens que a conheciam. O casal parecia muito feliz, diziam os amigos que eram recebidos nos finais de semana no luxuoso apartamento de cobertura no coração dos Jardins, presente dos pais orgulhosos do sucesso do casal.

O engenheiro trabalhava com frenesi, a sua meta era chegar a ser diretor da multinacional, onde sua carreira começou promissora, antes de completar quarenta anos. Queria ter uma casa, ampla e segura, queria a melhor escola para filhos quando esses viessem, queria uma casa na praia, outra nas montanhas, um iate, um avião... Nenhum bem material escapava da sua cobiça e desejo. Cobria a esposa com ricos vestidos, adorava exibí-la nas reuniões sociais... Mas, acima de tudo adorava trabalhar.

De repente porém, no décimo ano da sua carreira, já como gerente da companhia, no dia do aniversário do seu casamento ele misteriosamente desapareceu. No primeiro dia, os colegas acharam que ele havia bebemorado demais, piadinhas correram soltas pela empresa, num misto de sarcasmo e inveja. No segundo dia estranharam o seu silêncio, o diretor mandou a secretária telefonar à sua casa. E mais preocupados ficaram quando ninguém atendeu ao telefone. No terceiro dia foram até o seu duplex, e encontraram familiares que já haviam iniciado a busca pelo casal.

No quarto dia, a esposa reapareceu. Ela havia estado com uma amiga no seu apartamento, foi o que a sua família ouviu dizer. Marido? ela não sabia ou não queria dizer. No quinto dia o engenheiro reapareceu. Barbudo e com roupa amassada em desalinho, sem o ar de superioridade que a muitos irritava, sem o seu sorriso irônico que a muitos aterrorizava, ele foi direto à sala do diretor e de lá saiu demitido. Como assim, demitido? perguntavam os colegas atînitos... Não, foi ele que pediu demissão, respondia a secretária. Mas ninguém conseguia decifrar o mistério de tão súbita mudança.

Mas a vida continua... em um mês, o prato do dia nas fofocas obrigatórias junto à mesa do café já não era mais o engenheiro desaparecido.

(continua...)

Clary
Enviado por Clary em 30/05/2006
Reeditado em 04/06/2006
Código do texto: T165850