O Super Homem de Surubim

Lembram-se? Daquele... Como dizer? “Entrei numa perna de pinto / saí numa perna de pato / Sr. Rei mandou dizer que cada um contasse quatro” quando terminavam as histórias que nos contavam antigamente. Lembram?

Falar nisso, Roberto meu irmão ficava tão absorvido pelas histórias, que a baba escorria boca a baixo e os olhos arregalados e atentos qual de Mandrake paralisado não perdia nenhuma palavra, nenhum movimento do contador. Outra vez, mamãe, para não ter que limpar a sala de tanta baba colocou um pires bem debaixo de onde escorria a baba, num é que o pires se borrou, rapaz. E o cabra nem bateu a pestana até o fim da história. O apelido dele ficou Bob Babão. Ele vai ficar por conta depois dessa revelação. Mas fazer o que a literatura é minha e uma vingançazinha vez em quando é bom. Compensa algumas coisinhas do passado.

Bom! Vamos ao “O Super Homem em Surubim”. Obviamente, foi muito antes da visita do Tio Sam. Aliás, como já falei da viagem do Tio Sam, anteriormente no casamento nordestino, ele veio justamente para conferir e surrupiar algumas coisas e quem sabe levou a história do Super Homem também para lá.

A verdade é que meu Pai, homem que nunca disse uma mentira, naquela noite, começou a contar sobre o acontecimento que segundo sua narrativa mesmo e não vou tirar nem pôr nenhuma palavra, aconteceu assim:

- Fazia uma lua fininha que mais parecia dia. Na campina num escurinho debaixo da cerca de “avelóz” ouvia-se o mugido de um “borreguinho” buscando o peito da mãe. No cercado o gado tranqüilo, deitados ruminando a comida do dia. Um vento friinho assobiava no descampado ora ligeiro, ora rodopiando parado. Lá longe se via as rolinhas pousadas nos rastos dos caminhos de Burro. Um pássaro noturno em seu vôo atrasado. Rasgava a noite do sertão riscando o ar de lado a lado. Sem nem um barulho sequer e sem nem um som qualquer, o que me deixou desconfiado. É certo que aqui é quieto ademais de noite que se houve qualquer arrastado.

Fui sentar no último batente dessa calçada. Olhei a copa das árvores, percorri de cá prá cá, iluminada por uma estrela vi a folha mais alta do cajá totalmente orvalhada. Admirei o firmamento, um céu azul limpinho salpicado de brilhantes bem pequenininhos que deixava todo pintado. Sultão deitou do meu lado o que me deixou mais acalmado. Num repente levantou. Olhou lá pra cima da Serra. Apontando com as orelhas usando o faro aguçado. Sem saber o que acontecia com a mão na peixeira me pus logo preparado.

O boi Malhado chefe da boiada soltou um mugido aperreado correndo prá todo lado. Nessa hora pedras de granizo caíram no chão, eu pensei, em todo cercado. Num eram pedrinhas, não. Eram maiores que os seixos de cartomante da feira lá do mercado. Ah! Pronto! Eram do tamanho de uma batata inglesa grande não é muito mais da média. É, durou... uns três minutos aproximadamente caindo aquela chuvarada de pedras. Não foi chuva não, foi só pedras. Logo toda a natureza acordou e o silêncio virou muita zoada. Sem falar num estrondo que acordou toda bicharada. Agora, uma coisa me deixou intrigado. As pedras de granizo num caiu em todo canto, não. Saiu fazendo um caminho com a largura de mais ou menos 1,5 m 2 m justamente prá onde Sultão havia olhado. Depois veio o estrondo que me deixou assustado. Acordou todo mundo a me perguntar do ocorrido. Como podia dizer sem o dia amanhecido.

Imaginei os brilhantes do céu que podiam ter caído. Mais no meu pensamento fiquei quietinho prá num causar mais alarido. A noite foi se passando na lentidão do alvoroço que não deixa o tempo passar. O carinho da noite deixou o sol no quarto entrar e bem de manhãzinha todo mundo correu prá lá.

Já era uma romaria dessas de muita fé. Seguindo o caminho das pedras que derreteu em poçinhas de água mais dava prá perceber que vinha lá de cima da serra e começava a escorrer. Eu de olho nos brilhantes; Fui logo, na frente e vi com meus olhos que lhe vão tudo dizer. Na virada da Serra um buraco enorme se fez. Tal qual o do Super Homem quando veio prá terra de vez. Num era buraco qualquer, não, tinha o seu estilo. Terra baixou simplesmente e tudo se acomodou desde a grama ao ser vivente. Como uma pá virada na hora de ensacar. O que era um monte virou vale criando uma ribanceira, com tudo arrumadinho. Lembro que tirei um cajuzinho, assim bem pertinho da gente, na última galha do pé

- Acorda! Bob Baba!

- Vou dá-lhe um peteleco ta me ouvindo! Bob Baba é a mãe.

- Calma! Rapaz. Papai? Não, não essa não tem jeito, é muita fantasia.

- Tão ô Tão! Vem cá! Lembra da Pá virada?

-Lembro até do cajuzinho, tomei ele com cachaça.

- Diz a mano o que aconteceu.

Nesse momento mamãe sai da cozinha.

- Quem sabe da história também sou eu. Foi na Serra da Mata Virgem... ía gente de todo canto tirar água na cacimba que desceu.

- De Mãe e de Pai não se duvida. Portanto, aconteceu.

Crontei.

Depois cronto mais.

Manuel Oliveira
Enviado por Manuel Oliveira em 30/08/2009
Código do texto: T1783450