Um conto do passado. O nosso passado.

O conto que contarei nas linhas seguintes é um tanto inusitado; algo que poderia ter, e talvez tenha, acontecido em qualquer momento da curta história da nossa espécie. Porém, contudo, todavia, não poderia eu, como um observador social, ter testemunhado tal peripécia de uma historiografia marcada por contradições e conflitos: a minha idade não permite.

Mas, através de televisões e internet e jornais tabloides, posso acompanhar qualquer fato que esteja popularizado no momento. O que eu vejo através desses instrumentos de comunicação, são apenas contradições e conflitos que metaforizam o passado humano.

Há quem diga que aconteceu, mas eu não vi - nem pela tevê. Talvez seja uma metáfora do presente o fato de o papa João, meio milênio atrás, ter dado a luz a um menino em plena rua de Roma. Não fora o rato o roedor da roupa do rei de Roma, fora um fato de um homem que, inesperadamente, rasgou a roupa eclesiástica e deu a luz a um pequeno humano.

O homem de estatura média, traços finos e voz grave, tornou-se uma liderança dentro do mundo católico de forma meteórica. Na mesma época que a Igreja tinha mais influencia no governo que os próprios governantes, João tornou-se padre e, rapidamente, Bispo.

Discursos longos e certeiros, referências empolgadas à Bíblia e a veemente condenação de atitudes imorais deram ao Bispo uma promoção à Cardeal. Sua carreira católica estava feita. O dinheiro surgiu rapidamente e os fiéis o gloriavam cada vez mais.

O Cardeal gostava de vinho, festas e homens por perto. Suas festas eram regadas a comida, bebida e orgia. E não havia esse corajoso, de toda a diocese, que exporia qualquer suspeita de atitudes imorais por parte do homem que tornava-se o mais poderoso de todos.

Dentre as orgias e os vinhos e festas, havia obras de caridade e levantamento de questões pertinentes à sociedade por parte do Cardeal João. O povo o amava cada dia mais, a política o consultava cada dia mais. Era um rei não intitulado.

A hierarquia eclesiástica acompanhou o poder dele e o nomeou papa João. Um papa-rei ou um rei-papa? Muitos perguntavam-se. Até acontecer o fato mais inusitado de toda essa história. O papa deu a luz, em plena rua. Em plena Roma.

Dizem que havia com ele um homem e foi este homem que descobriu a realidade sobre o papa João, ou melhor, papisa Joana. Isto mesmo, o papa era uma mulher, chamada Joana. Não a Joana D´Arc, era outra, com o mesmo nome e história parecida.

O filho, um menino de pinto, tornou-se Bispo mais tarde. O que aconteceu com sua mãe é uma lacuna historiográfica. Pode ficar a cargo do leitor preenchê-la, ou dos acadêmicos, com artigos vorazes decifrando linguagens de outra cultura - de uma metáfora que aconteceu e passou. Mas é tudo nosso passado.

Malluco Beleza
Enviado por Malluco Beleza em 04/02/2010
Reeditado em 01/05/2014
Código do texto: T2068672
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