TRIPÉ DA VILA SILA

COISAS DA PRAIA-TRIPÉ DA VILA SILA

FlavioMPinto

Zé da Cambraia acordara cedo: hoje é dia de pescaria e a plataforma me espera. Pegou o anzol, vara de pescar e outros apetrechos do metier e se tocou para o local de costume. Saíra bem cedo e logo depois das nove já estava de volta.

Não teve muita sorte, apenas uma meia dúzia de papas-terra pequenos que ecologicamente devolveu ao mar, mas conseguiu comprar um cação de uns dois quilos para fazer uma moqueca prá sua turma. Antes de chegar em casa passou na feirinha do Japonês e arrematou temperos, legumes e verduras para o prato.

- Essa moqueca vai ser de lamber os beiços!

Chegando em casa, acordou a turma e tomou um bom café que Cordolina já havia preparado, enquanto os demais se preparavam para a praia.

Zé, sempre solicito, apanha quatro cadeiras e o carrinho e o guarda-sol, moravam a uma quadra do lagoão, e se foram.

- Bom, já fiz a minha parte, por enquanto. Agora vou levar o Chevette para a manutenção na oficina para voltarmos com tranqüilidade que essa 290 só tem barbeiros.

- Vai, Zé, leva essa porcaria para o mecânico antes que se desmanche. Tô lôca para vender essa cachila.

- Mas que cachila, Cordô? O Poderoso está inteirinho, todo original! E ainda é ecológico: o ar condicionado é natural. Ora essa!

E passou o resto da manhã com Oduvaldo, seu mecânico de todo veraneio conversando e tomando umas cevas enquanto o Poderoso era colocado nos trinques.

- Bueno, tudo pronto, carro guardado na garagem, agora vou para cozinha. Hoje, lá, tudo é comigo. Que beleza.

E rapidamente limpou e cortou o peixe, preparou as verduras e legumes, que colocou com os temperos na panela e aguardou o pronto. Eram quase três horas quando o cheiro da moqueca invadiu o apartamento.

- Agora vou á praia buscar as meninas!

Junto levara o primo que a pouco levantara depois de uma noitada de arrepiar os cabelos. Balsemão Rogério, primo da Cordolina, era metido a galo e galã. Conversador, incherido, abusado, e metido a conhecer tudo. Desde que colocara os pés na praia atacou quase todas as “changas”( assim ele chamava as mulheres em condições de...) que apareceram na sua frente. Andava que nem porco ervado: não tinha cerca que o atacasse.

Na beira dágua, as mulheres, que já haviam passado da fase cor de rosa e estavam que nem amendoin torrado, , avisaram para esperar e iam caminhar. Iam demorar umj pouco.

- Vão rápido pois a comida já está pronta. Vamos logo...avisou Zé.

Zé e Balsemão ficaram embaixo do guarda-sol.

Momentos depois visualizam uma moça que não parava de olhar para o Zé.

- Que tal o meu figurino, Bal? Comentou Zé trajando sua indefectível bernalça, uma bermuda pelo meio da canela, meio calça preta listrada com branco. Um figuraço.

- Tá, bom, tio. Acho que está agradando as “changas”. E olha aquela ali!

- Não te fresqueia que tá olhando prá mim!

Uma loira sentada a uns dez metros de distância não tirava os olhos do Zé. Ora passava os dedos na parte de baixo do biquíni como ajeitando-o ora ajeitando o chapéu e de olho na direção do Zé. Era cada flexada...e Zé não sabia mais o que fazer.

- Tá bem, tio. Vou caminhar também. Te deixo solito. Fui!

E não é que a gringa queria mesmo algo com o Zé? Logo que o Balsemão saiu ela levantou, foi até o bar e na volta e veio “atacar” o Zé com duas cervejas na mão, sem antes dar uma boa olhada e, volta , com certeza para ver se a Brigada não andava por perto.

A loira era de desmanchar casamento e Zé ficou de boca aberta ante a beleza e confiança dela.

Era uma mulher esguia, de fato muito linda. Era um pouco passada, tinha uns 45, mas tudo encima. Trajava(?) um biquini pequeno listrado a fluminense. Um colosso. E já foi dizendo que o conhecia da loja de tecidos e ficara feliz de encontrá-lo na praia e queria conhecê-lo melhor.

- Sabe como é, não é, Zézinho!

Quando Zé se aprumou para responder, Balsemão aponta com a turma toda. O sobrinho tinha um ouvido “de cachorro” e comentou consigo mesmo:

- Se essa loira souber que o tio tem ao apelido de Tripé da Vila Sila não se assanharia! É o terror do Prado.