O VERDADEIRO SENTIDO DO NATAL !!!

O final de ano chega trazendo consigo os costumeiros prenúncios do NATAL, através de multicoloridas luzes – que nem os gritos do apagão conseguiram silenciar, na pequena e bonita cidade conhecidíssima como “Pedra do Buíque”, no agreste pernambucano.

Acontece, inexplicavelmente, no coração de todos, desde tempos remotos.

As frustrações, desilusões, ansiedades... São colocadas de lado, abraçando-se os sonhos, ilusões, fantasias, esperanças e expectativas que tudo irá melhorar no ano que se aproxima... Tudo isso como se, num passe de mágicas, num piscar de olhos, cada um – criança, jovem, adulto e idoso, homem e mulher, negro e branco, pobre e rico, fraco e forte, do campo ou da cidade, leigo ou intelectual... – pudesse viver o seu dia de príncipe ou princesa simplesmente porque aconteceria NATAL.

Entendemos que esse sentimento se dá com qualquer ser humano do mundo ocidental e, mesmo além ocidente... Contudo, através de ilusões ou a força de canhões, o ser humano de forma geral, é privado ou priva–se de sua capacidade racional de pensar que a data tem um significado maior do que parece...

Algumas crianças da comunidade rural Riacho do Mel, filhos de agricultores (analfabetos, semi-analfabetos ou que terminaram um curso superior) que priorizam o estudo dos filhos como a mais preciosa herança, reuniram-se após as atividades daquele início de recesso escolar e planejaram que, este ano, não seria apenas mais um natal – aproveitariam o momento para levar seu questionamento da realidade social e sua reflexão sobre o verdadeiro sentido do NATAL para o homem, a mulher e, especialmente à criança do campo. Isso, durante as festividades programadas para o povo da cidade.

Pedrinho, uma espécie de líder da turma, entusiasmadíssimo, procurava estimular os outros lembrando-lhes que o comum nessa época era sempre as pessoas se confraternizando, desejando um feliz natal e um próspero ano novo, missa do galo, comes e bebes, etc; mas que depois continuava tudo igualzinho...

Claudinha concordou e, lembrou-lhes que o sentido do natal estava muito mais para favorecimento de fabricas e comércio que vendiam os seus produtos, do que para melhorar a vida das pessoas. continuando, completou: como iremos colocar essa idéia em prática? Não podemos esquecer que somos apenas crianças entre os sete e dez anos!

_ Bem! Disse Pedrinho. Exatamente nisso está nossa vantagem.

_ Como assim? Indagou Zeca, entrando na conversa.

_ Acho que os adultos tentam nos enganar com essa estória de presentes! Tomou coragem Mariazinha, irmã do Pedrinho. Estaríamos satisfeitos com o que esteja na cabeça do adulto? Onde estaria, ao longo do ano, os verdadeiros laços de amizade, muito mais valiosos que os presentes?

_ Bem, pessoal... Disse Pedrinho, tomando a palavra, seguido de uma pausa. Precisamos deixar de pensar como adultos... Como dizia antes, exatamente em sermos crianças está nossa vantagem! Vejamos bem: Os adultos estarão envolvidos em suas próprias coisas e, teremos liberdade para organização necessária: Ensaiar e, no momento certo, entrarmos em cena, lá na praça principal, diante de todos...

_ Mas! Quis saber o Severino. Como faremos para que, no dia vinte e três, tudo esteja pronto?

_ Sim! Como faremos? Pergunta a Mariazinha demonstrando preocupação.

_ É simples! Joãozinho que estivera calado intervém. Eu e o Pedro, conversamos um pouco sobre isso e entendemos que, primeiro, deve–se pesquisar mais sobre a origem do natal: de onde tiraram essa idéia, por que os presentes, a confraternização, etc; em seguida, deve-se pensar sobre o sentido para nós camponeses, nos dias atuais. Depois escreve–se o texto-base, ensaiaremos e, no dia certo, estaremos bem afinados!

_ E a timidez, como é que fica? Pergunta o Tonico.

_ A timidez... Responde Pedrinho. Vamos colocar na cabeça que uma boa parte das pessoas que estarão assistindo também tem timidez. E, olhe que muitas são adultas. Outras estarão tão atentas ao que estivermos fazendo que nem irão perceber nossas fragilidades...

_ É isso aí! Apóia Joãozinho. A agilidade será necessária porque falta, apenas, três semanas!

Assim, distribuíram as tarefas de forma proporcional: Pedro e João se encarregariam de reunir o material para a pesquisa sobre a origem do natal, Cláudia e Mariazinha iriam pesquisar sobre o sentido da comemoração nos dias atuais – especialmente, para comunidades rurais; e os demais planejariam sobre a forma de apresentação.

Entretanto, tão logo cada um foi conversar com seus pais, começou os problemas: Os pais de Pedrinho e Mariazinha não conseguiram compreender a idéia: como imaginar crianças tão meigas no meio daquela gente “ricaça” da cidade: estava na cara que iriam passar vergonha! De jeito nenhum!

A reação dos pais de Zeca, João e Severino não foi muito diferente daquela dos pais do Pedrinho e da Mariazinha. Disse o seu Agenor: Num sei não. Esse negócio num vai dá certo não, num sabe? Num quero vê nem a veigonha qui cês vão passar!

Apenas os pais de Jorge aprovaram os planos daquela turma de crianças. Entendeu que elas estavam cumprindo sua missão na sociedade. Quanto aos pais do Tonico, acharam melhor não opinar porque tinham receio, tanto de decepcionarem o filho quanto da desilusão que o plano poderia lhe causar.

* * *

No dia seguinte, na hora em que normalmente se “reuniam” para as brincadeiras, exceto Jorginho, estavam com o semblante entre apreensivo e abatido. Nem seria preciso explicar...

_ E, aí, amados! Quem será o primeiro a prosseguir nossa reunião de ontem à tarde? Fala Pedrinho, quebrando o gelo.

_ Bem! Disse o Tonico. Eu acho que devemos desistir dessa nossa idéia. Quem sabe numa outra ocasião... Teremos tempo de trabalhar a questão da timidez...

_ É isso mesmo, completa o Zeca. Acho que não teremos o apoio dos nossos pais e, sem isso como poderemos prosseguir?

Após uma pausa, sem que dissessem nada, como se uns esperassem pelos outros, o Jorge falou: Bem, pessoal! Lembro as palavras de incentivo do Pedrinho, ontem à tarde e, acrescento que não devemos assumir o pessimismo dos adultos. É claro que devemos prosseguir com nossa idéia... Quem falou que seria tão simples assim? Afinal, desde quando as coisas foram fáceis para nós do campo? Será que devemos desanimar diante do primeiro obstáculo?

_ Isso mesmo! Falou Mariazinha. Os obstáculos devem ser encarados; exatamente, como forma de repensar as nossas idéias e, certamente, examinaremos as coisas com maior prudência afim de não ficarmos iludidos!

_ Assim é que se fala! Apoiou Pedrinho. Quero acreditar que continuamos firmes! Não há porque desistir. Mas, vamos mudar de assunto: precisamos nos organizar. Dois dias a menos e o tempo voa. Assim, nada melhor que ganhar tempo! Todo mundo de acordo?!... Eu e o Joãozinho estivemos dando uma olhada na Bíblia Sagrada – aprendemos na igreja que a história verdadeira do menino Jesus é aquela encontrada nos Evangelhos. Chegamos à conclusão que fica melhor fazer uma espécie de resumo do nascimento de Jesus e demonstrar que o nascimento se deu para cumprimento de sua missão e, portanto, o natal não pode ficar restrito ao menino na “manjedoura”; mas, ressaltar a missão do menino quando ele cresce!

– Eu e a Mariazinha! Falou Cláudia. Estudamos sobre o sentido do Natal hoje, e entendemos que essa data está sendo importante é mesmo para os produtores de brinquedos e lojas que faturam alto em cima do natal – nem sequer respeitam o descanso semanal dos empregados: abrem as lojas aos domingos e, durante a semana esticam o expediente com a desculpa de facilitar a vida de quem não tem tempo outra hora! Certamente, isso não deve ser o sentido do natal!

_ Bem! Falou Jorginho, nós outros pensamos que a melhor forma de trabalhar essa idéia será como se estivéssemos apresentando um telejornal: dois no stúdio, dois para as entrevistas, e os outros como pessoas que dariam sua opinião aos repórteres...

_ Muito bem! Falou Pedro e João, ao mesmo tempo. Está claro como a luz, que, mesmo desanimados, cada um estava dando o melhor de si, para que nossa idéia fosse bem sucedida. Agora, vamos pensar melhor nos detalhes para que, na próxima semana, se possa fazer o primeiro ensaio. Depois, teremos apenas mais duas semanas para o natal. Entretanto, está faltando uma coisa: Qual é o adulto que iria nos orientar, considerando-se que nossos pais não estarão dispostos ao estímulo? Certamente, nossos professores já estão envolvidos nas atividades natalinas...

_ Eu não tenho certeza de que posso ajudar nessa área, falou Tonico. Mas, meus pais conhecem um pregador que, certamente, faz peças de natal com os jovens de sua igreja...

_ Ótimo! Interrompeu Mariazinha, antes que Tonico concluísse a frase. Então está resolvido! Vamos conversar com ele!

* * *

No dia seguinte, de manhã, os garotos pegaram suas bicicletas e em pouco tempo superaram os seis ou sete quilômetros que separava o sítio da cidade e foram procurar o Sr. Paulo André, pregador do Evangelho. Tocaram a campainha e nada... Uma das vizinhas que passava pela calçada disse: eu acho que viajaram no final de semana e não sei quando é que voltam não. Cansados pelo percurso campo-cidade, com sede e calor, estavam a ponto de desistir... Afinal, qual a saída? Permanecer ali também não adiantava... melhor era procurar um local adequado para pensarem o que fazer...

* * *

Estavam a ponto de sair, quando o portão foi aberto e, o Sr. Paulo André saiu e, perguntou: Pois não? O que desejam?...

_ Bem! Começou Pedrinho. Nós moramos na comunidade Riacho do Mel e queremos falar com o senhor sobre o sentido do natal!

_ Tudo bem! Agora, tenham a bondade de entrar; não é possível conversar aqui na calçada com todo esse calor!

Quando estavam todos bem acomodados, na ampla sala, o pregador perguntou se estavam com sede, e pediu que sua esposa trouxesse água e doce para os garotos. Em seguida, dirigindo-se ao grupo, pediu que lhe explicassem aquela história do sentido do natal. Após as exposição dos garotos, o pregador concordou em orientá-los e, uma vez acertados os detalhes sobre o primeiro ensaio a ser acompanhado pelo senhor Paulo, eles informaram que precisavam retornar para o sítio e, despedindo-se partiram felizes.

* * *

Na noite do dia vinte e três de dezembro, com a praça principal da cidade superlotada, anunciou-se a presença de um grupo de crianças da comunidade Riacho do Mel, com apresentação sobre a origem e sentido do verdadeiro Natal... Entre ansiedade e nervosismo por parte dos garotos, e forte expectativa do público, eles assumiram o palco.

* * *

Abrem-se as cortinas e, os garotos Pedrinho e Joãozinho, sentados por trás de uma espécie de mesa, começaram sua parte:

_ Boa Noite! Em nosso telejornal, iremos apresentar um especial sobre a origem do natal e, o seu significado para os nossos dias... Destacando algumas entrevistas diretamente das ruas da cidade!

_ Há dois mil anos, nasceu Jesus de Nazaré, em Israel. A data exata não sabemos, mas a tradição cristã, em nosso país afirma há muito, que teria nessa época do ano... Na verdade, o vinte e cinco de dezembro foi uma adaptação dos romanos. Conforme as Escrituras Sagradas, mais importante que o nascimento foi o ministério de Jesus, dos trinta aos trinta e três anos – fato que a nossa sociedade tem deixado de considerar... Agora, diretamente das ruas com nossa repórter Cláudia pra saber a opinião do cidadão comum, o qual parece desconhecer O VERDADEIRO SENTIDO DO NATAL.

_ Estamos na praça principal com o senhor Zeca, e queremos saber qual o sentido do natal...

_ Não entendemos direito porque tanta comemoração. Mas, o certo é que, tão logo chega o mês de janeiro, o pessoal começa a ficar desanimado porque no calor das emoções comprou mais do que podia pagar ou mais do que devia comprar. Considerando que estamos há muito tempo sem reajuste salarial (e o valor dos produtos são constantemente reajustados), a situação tem se agravado e nos deixa apreensivos... Natal deve ser mesmo é festa de rico que pode comprar bons presentes, passear no estrangeiro, e coisa e tal...

É com você no stúdio, Pedrinho. Fala Cláudia, encerrando a entrevista. Pedrinho vira-se para Joãozinho e comenta:

_ É! Certamente o pensamento elitista de alguns têm determinado o teor das festividades!

Joãozinho por sua vez comenta que Jesus nasceu em meio a uma situação de exclusão social; porque a Palestina dos dias de Jesus passava por uma situação semelhante ao Nordeste brasileiro... Assim, não faz sentido o natal dos shopping centers, bailes nos clubes sociais, cerveja, champanhes, etc. Em seguida, avisou que haveria mais uma entrevista diretamente das ruas, com a repórter Mariazinha.

Estamos nas proximidades da Igreja Matriz com o senhor Jorge Luiz e queremos saber qual o sentido do natal?

_ Eu acho que essa coisa de comemoração do nascimento do menino Jesus é mais uma campanha publicitária para venda de produtos e serviços. Afinal, cadê o amor ao próximo? Cadê a hospitalidade? Jesus nasceu desamparado porque não havia vagas na hospedaria, por causa do censo. Em nosso dia–a–dia, não está havendo nenhum censo, contudo (por esse país afora), milhares estão desempregados, desabrigados, etc.

Enquanto alguns moram em palacetes, milhares encontram-se debaixo da ponte, famintos e, humilhados o pão se perde na mesa do rico; Muitos não têm dinheiro para o coletivo diário enquanto alguns possuem muitos carros para ostentação; alguns agonizam nos leitos de hospitais enquanto medicamentos nas prateleiras de farmácias esperam quem possa adquiri-los, aumentando ainda mais o lucro da indústria farmacêutica...

Dos stúdios, Pedrinho retoma o diálogo: “E, para você, qual é o sentido do verdadeiro natal?”

Chagas dhu Sertão
Enviado por Chagas dhu Sertão em 11/12/2010
Código do texto: T2665525
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