Ligando pra Elvis

Liguei para Elvis mas não havia ninguém em casa. Ele havia deixado o prédio. Enquanto eu encontrava-me sozinho no meu apartamento. Tentei novamente, para que ele pudesse alcançar o aparelho. Mas nada. Ninguém atende ao telefone da rua. Eu continuava sozinho. E agora, um pouco mais desesperado.

Lá fora, os fogos rasgavam o céu em uma felicidade barulhenta. Damas e cavalheiros passavam rapidamente e alegremente. Olhavam-se profundamente. Estavam todos à procura de um braço para jogar-se a noite. Era o que acontecia. Era o que acontecia naquele momento.

E foi quando vi rapazes descerem em um para quedas que minha alma sentiu-se ameaçada. Algo que veio de longe, do passado, parou e encarou a minha alma, como se esta estivesse gelada em relação a tudo.

Liguei de novo para Elvis, mas não havia ninguém em casa. Um frio interno tomava conta do meu corpo. E as pessoas da rua se dissiparam. Havia apenas uma lanterna na torre e um cidadão com uma vela acessa que vagava na direção do nada.

Lembrei-me de quando era pequeno, morava com meu pai e acordava no meio da noite. Eu tinha pesadelos com canibais. Mas meu pai dizia que eu deveria ser um menino, apesar de pequeno, grande e forte. E depois eu me tornaria um homem grande e forte. Como papai era. A gente ia à praia e brincava de bola e andava pela areia.

Mas a noite eu tinha pesadelos e acordava fazendo perguntas a papai e ele docemente dizia era uma vez uns canibais, mas hoje não há mais canibais. O mais incrível era que isso me confortava e apenas pedia que ele deixasse uma luz no corredor, só para garantir. Ele me dava um beijo no queixo e saía.

Mas agora não havia papai eu estava sozinho, ainda não havia ninguém na casa Elvis. No bar ainda tinha algum Scotch, eu só conseguia me abastecer de bebida forte, pesada e para quê melhor que Scotch? E sempre fora assim na minha vida. Bebida, luxúria e dinheiro sempre fizeram parte.

Na última ressaca de Scotch a noite toda, comi seis hambúrgueres e coloquei no sangue um pouco de nicotina – café da manhã. Assim melhorei. Só me abasteço de combustível pesado.

Bebi o resto do Scotch e tentei ligar para Elvis novamente. Não havia ninguém em casa, cheguei a falar com a máquina e disse que precisava falar com ele, eu era seu maior fã. Saí andando pela rua deserta.

Mas não estava alheio ao deserto, nem o da rua nem o da alma. Eu me atentava a tudo que se passava a minha volta. Quando vi uma banda de longe. Mas seu som chegava até mim e preencheu minha alma de uma forma inusitada.

Fui ver. A banda tocava um rock diferente, com sopro. Não era o que meus amigos chamavam rock and roll, mas o que eles faziam realmente davam-lhe jus ao nome: Os Sultões do Swing.

No meu canto direito havia um grupo de rapazes bêbados e vestidos com uma bolsa marrom. Usavam também sapatos plataforma. Diziam não gostar do trompete. E os Sultões tocaram uma música para cima e depois dessa música um homem chegou ao microfone e deu boa noite afirmando que era hora de ir embora para casa.

E então ele voltou ao microfone e repetiu: somos os Sultões do Swing. Eu voltei andando para casa, pela mesma escuridão da vinda. Mas desta vez minha alma já não estava mais tão fria e já sentia algo, que não do passado.

Eu não tentei mais ligar para Elvis, pois já estava melhor e sabia que ele havia morrido em um hotel de corações quebrados. Eu continuava vivo, um pouco mais para cima, até sabe quando Deus, pois sempre estarei no meio de um Dire Straits.

*Texto baseado nas músicas: Calling Elvis, Cannibals, What it is, Heavy Fuel e Sultans of Swing do grupo ingles Dire Straits.

Malluco Beleza
Enviado por Malluco Beleza em 17/12/2010
Código do texto: T2676848
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