Por uma vida toda.

1963, acho que a data está correta.

Eu dormia em uma cama deliciosa. papai, meus irmãozinhos, sim, porque eram mais novos que eu.Acordei, , como todos os dias, deliciei-me com tudo .O sol pela janela, O dia que deslumbrava. Primeiro os raios, depois as vozes na cozinha. Eu não sabia de nada. Não ouvia a voz de meu pai.

Nem de minha mãe.

No quintal havia uma árvore,dona Suca, cansei e cansei de escalá-la,

era muito bom, a única árvore que eu subia e conseguia descer. Porque em outras, eu era a retardada, que subia, e não conseguia descer.

Bem, o dia estava lindo, estava tudo normal, cada coisa em seu lugar.

Eu só estranhei, quando fomos para um hotel. O único da cidade. Achei legal. Um hotel! Amigos foram me visitar, sabiam de tudo, só eu não sabia.

Haviam me traído, eu não sabia o que era isto.Estavam se despedindo de mim. Eu não sabia. Meus amigos não me traíram. Eles sabiam, que eu iria embora.Acho que sempre fui crédula demais, papai, mamãe e os demais. Confiança total.

Chegamos em São Paulo.

.Uma casa , não igual à que eu tinha.

Meu pai desconfortável. Não tinha ainda televisão.

Miinha mãe, feliz. Aonde era ,a escola para onde fora removida?

Ninguém sabia, ninguém sabia.

Mas anjos, sempre os há.

E foi assim que descobriram o caminho do "ouro".

Matricularam-me em uma bela escola"de freiras".

Freiras?

Foi quando descobri, que minha vida, já não podia ser igual..

Impuseram-me a vida.

Uma vida que eu não queria.

Pessoas estranhas, como há de se esperar de uma metrópole.

Mas eu não sabia.

Não havia cortinas, na sala de minha nova casa.

Nem televisão!.

Mas, eu tentava, ver o sol entrar pela janela,

Sonhar, com o lugar de onde vim.

Chegaram as cortinas,

Chegou a televisão.

Nada foi igual.

Nunca mais.

Papai era triste.

Mamãe, eu não sei.

Ela sempre ia dar aula.

Meu pai, sempre, que estava em São Paulo ia levá-la e buscá-la.

Parque Bristol. Um horror.

E eu, criança, vendo tudo isto.

Que pena, fui a retardada.

Que não falava com ninguém.

E ninguém me entendeu.

Jamais teriam me posto,

Num lugar inferior ao meu posto.

Regina Martins Vita
Enviado por Regina Martins Vita em 12/01/2011
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