UMA SEXTA-FEIRA

Sexta-feira, perto das cinco da tarde, eu entro num bar e peço uma

cerveja. Estou angustiado pensando nos meus problemas e achando

que a vida não vale a pena. Complicado pensar nas consequências de

se estar liso e ver as contas vencendo sem saber o que fazer para pa-

gá-las. Pedi um vale na firma e o patrão disse que não tinha. Fazer o

que? Nada. O jeito é esperar pelo dia do pagamento. Por enquanto ten-

ho o da cerveja e isso me basta. Bebo cerveja como se tragasse as an-

gústias que estão por vir. O mundo real está lá fora e eu aqui dentro

desse bar pensando que a vida poderia ser os sonhos que não sonha-

mos, as alegrias que não vivenciamos, a ficção onde tudo acaba bem.

Mas a vida não é nada disso. A vida é o que chamam de realidade e se

mostra nas manchetes dos jornais, no salário que não dura um mês, nos

amores que acabam sem explicação.

A cerveja está acabando e as angústias ainda desfilam na minha me-

mória como um mosaico da realidade , revelando o lado ruim das coisas.

É sexta-feira, amanhã é sábado,depois é domingo e segunda tudo re-

começa. Acordar com o corpo ainda desejando uns minutos a mais de

sono. Tomar banho, tomar café, pegar um ônibus lotado e escutar as

pessoas comentando sobre futebol, crimes, bobagens. A vida.

A cerveja acabou e vejo Lenine na telinha. Aí começo a achar que a

vida vale a pena. Bendita cerveja que acaba a sede e as angústias de

uma sexta-feira que estava perdida no calendário da minha vida.

JOAQUIM RICARDO
Enviado por JOAQUIM RICARDO em 10/05/2011
Código do texto: T2960976
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