Vicente Finin 


         Nós, crianças brejo-santenses da década de 1950, tínhamos muito medo de Vicente Finin.

          Contava-se que em noites de lua cheia, ele virava bicho e corria as pessoas como os lobisomens. Por isso, quando as luzes davam sinal que iam ser apagadas, minutos antes das 22 horas, aonde quer que estivéssemos brincando, dizíamos: vamos brincar de brasa? Cada uma pra sua casa.! E todas corríamos em direção às nossas residências.

          Ele morava no Serrote. Era um homem magro, pálido, desnutrido, de aparência triste.Todos diziam que ele era amaldiçoado pela mãe por conta de uma mentira. 

          A estória a respeito dele era a seguinte: Certo dia sua mãe mandou que ele fosse deixar o almoço do pai, na roça, onde estava trabalhando. No caminho, apesar de já ter almoçado, ele comeu a carne do prato do pai. Quando o pai perguntou pela mistura, Vicente disse que a mãe não tinha colocado carne na comida.

          No final do dia de trabalho, chegando irritado o homem discutiu com a esposa, agredindo-a, pois sabia que havendo carne em casa ela não mandou para ele. A Mãe tentou se explicar, porém foi tudo em vão. O homem encolerizado a maltratou muito e o filho não a defendeu, deixando que o pai lhe atribuísse uma culpa que não tinha. A Mãe ofendida e decepcionada com o comportamento do filho mentiroso, no momento de raiva rogou-lhe uma praga. E por toda a sua vida, ele, em noite de lua cheia, virava cachorro ou qualquer outro animal, corria pelas estradas e comia as pessoas que encontrasse. 

         Vicente Finin foi sempre uma pessoa discriminada por todos da cidade e temida, sobretudo, pelas crianças.