K R E N

K r e n

- Vai fazer o que pedi?

- Claro, o que a amiga está precisando é uma oportunidade de afirmar que sempre estou às ordens! Já falhei alguma vez?

- Bem, digamos que o que estou a pedir é um tanto trabalhoso e uma negativa de sua parte não deverá influir em nossa amizade.

- Ok, eu gostaria, que ouvisses umas idéias sobre problemas a respeito que vens me referindo há algumas semanas.

- Problemas?

- Sim, criar uma filha adolescente é hoje uma tarefa, a meu ver, hercúlea. Sobretudo trabalhando como sei que você faz.

- Estou confusa, pedi algo e me vens com idéia, sobre meu relacionamento com a Paulinha!

- Sim, ocorreu-me que, se deverei hospedá-la durante o verão, talvez possamos obter um bom resultado com o que vou propor. Falo da conduta junto a sua turma, horários para sair e retornar, a maneira de tratar dona Mercedes, que está acostumada a atender só a mim., enfim, perdi o sono...

- Credo. Não pensei causar tanto rebuliço já de antemão. Sabe, vivo dedicada à casa, à revista e à noite, simplesmente estou exausta! Preciso fazer esta viagem e para cuidar dela só posso contar contigo. Se você pensou no vir te incomodar, poderemos arquitetar uma maneira de transmitir isto a ela.

- Bem, pensei em atitudes diante da vida que serão úteis no futuro.

- Santa ingenuidade! Pensa ser suficiente fazermos um rol de exigências de bom comportamento e colocá-las diante do seu narizinho empinado?

- Pensei em algo que talvez lhe agrade. Que tal umas historinhas com peripécias de um novo personagem. Vamos abordar alguns valores como respeito ao próximo, à privacidade de cada um, a importância de agradecer favores, a participação em tarefas domésticas e assim por diante.

- Em diante, o quê? A revista é para mães e cuidadores de crianças deficientes.

-Ah, mas poderia adicionar um conto para as mães lerem, porque não? Para a Paulinha a idéia será como forma de ela participar, ser uma leitora crítica, revisora com opinião escrita e acatada, além de paga. Posso ajudar neste item, além de idéias sobre os textos É um começo de estágio, preparação para o futuro. Sobre as idéias, porque não um personagem cujo perfil está dançando em minha cabeça: um porquinho encrenqueiro, por natureza e gosto?

- Sabe, estou gostando. Não digo que concordo, mas até que a idéia parece engenhosa. Quanto a dar certo, são outras discussões, mas gostei de porquinho encrenqueiro. Porque não o chamarmos de Kren?

- Ótimo, bem rosado, com nariz para cima como a Paulinha e sempre aprontando. Seu âmbito será a casa de seus pais e dos amigos da escola, para onde sempre é convidado e de onde provem queixas: dizer que não tem um celular e fazer uso do telefone da casa o mais poder, alegando que precisa “ajudar” alguém, quando está a conversar com a namorada. Fazer um lanche onde foi convidado e perguntar por que não são vegetarianos ou aderiram aos alimentos orgânicos? Depois a dona da casa, verifica que a geladeira foi assaltada em meio pudim de leite, e outros pratos já preparados. Há tantas possibilidades e...

Enquanto me empolgava com as idéias para a minha amiga escrever e publicar em sua revista, não percebi que ela caíra no sono. Pudera, com tanto trabalho mais as minhas patacoadas sobre um porquinho rosado, e eis que tive minha resposta: vou ter que me virar recebendo alguém que amo muito, mas me faz tremer só em pensar em hospedá-la e, mais que isto, ficar responsável por ela durante um mês!

Marluiza
Enviado por Marluiza em 29/09/2011
Código do texto: T3248158