O velho.

Ele não sabia mais o que dizia. Estava cansado, exaurido de si mesmo,

da sua alma entorpecida pelos tonéis do tempo, das suas histórias de idas e vijndas sem fim. Tinha andando anos a fio atrás de coisas

que não sabia o que seriam, mas devia achá-las, seja lá onde estivessem.

Suas rugas diziam bem mais do que todas palavras. O andar cansado,

triste, de ossos cabisbaixos, pedia paz, pedia sossego. A noite já

estava desnudando seus sonhos quando o velho acordou. Meio

cambaleante, grande parte por obra do gim tomado até

o gargalo, ele foi ao banheiro. Ao ver a sua imagem no

espelho, teve uma crise de choro que durou alguns infinitos

minutos. Sua pele estava empedrada, turva, com galhos

saindo pelos poros feito gazela foragida. Vendo aquela

imagem grotesca, funesta diria, o velho quis morrer.

Mas isso seria bom demais para aquele momento.

Olhou firme para o ralo da pia e colocou o dedo lá.

Foi sugado inteiro pelo ralo. E nunca mais foi visto.

Alguns ainda têm saudade do seu ronco forte, dos

gritos que dava quando o gato rajado da casa da frente

vinha aporrinhar sua paciência nas tantas madrugadas

insones. Um dia ele volta, volta sim.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 21/12/2011
Reeditado em 21/12/2011
Código do texto: T3400291
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