Ele mora longe e pisa em brasa

Ele vai, pisando em brasa, mora no beco, madrugada fria, bala quente, sirene corta a paisagem, morte na esquina. Segue sua sina, desvia, sempre em frente. Condução apertada, massa de gente: é assim que se sente.

Quando volta, ninguém nem nota, a mulher não vê, ligada na tevê: celebridades. - Que praga, resmunga. O super-herói ali em pé, um zé. No boteco joga conversa fora, pinga pro santo, conta prosa. Volta torto, escorrando paredes.

Ele vive assim: vende o almoço pro filho jantar e nem deita, já vai se levantar. Segue na sua abrasileirada vida, Sampa, Brasilândia, Zona Norte. Sua lida: fazer bico, camelô. Camelo. Corre do rapa na Lapa.

Quase sempre sobra dia; sempre falta no prato. Ainda assim ri da sorte e se contenta quando come, vez e quando, linha no almoço, pés, domingo: fica quieto num canto, já não canta como fazia, dorme, desmaia. Segunda é já-já.