NUNCA É TARDE! - Capítulo XXI

CARO(A) LEITOR(A), ESTE CONTO É ESCRITO EM CAPÍTULOS. PARA ENTENDER MELHOR A HISTÓRIA SUGIRO A LEITURA DOS VINTE CAPÍTULOS ANTERIORES. UM ABRAÇO. MARIA LÚCIA.

Marina ficou um tempo calada, mas resolveu:

- Meu pai tinha as coisa, ele num era pobre, não, nóis era doze irmão. A senhora sabe onde é a Fazenda Fundão, num sabe? Pois é, era do meu pai... - Marina ficou meio entalada.

- É mesmo, Marina? A Fazenda Fundão é uma das melhores da região.

- É agora, nesse tempo, a senhora imagina no passado? Aquilo lá parecia o céu aqui na terra, tudo de bão lá tinha, meu pai era o maior fazendeiro dessas banda. Coitado! Falá na vida e não na morte, mas meu pai era descontrolado, num sabia zelá da riqueza que possuia, gastava demais, fazia festa, convidava gente até da Barra Funda.

- Até da Barra Funda? Mas essa fazenda é muito longe daqui! Como as pessoas vinham?

- Ah! Pra trabaiá ninguém vem, mas pra festa, corre légua! Pois é, vinha a vizinhança tudo, vinha a cavalo, de carro de boi, a pé, de qualquer jeito. Aí era só festa, três dia, uma semana, só gastano nas festança. Eu num lembro, era Jó a minha irmã mais velha que acabou de criá nóis, depois que mãe morreu, que contava. A senhora sabe como é, quando é rico, bem de situação, chove de amigo, mais quando tá na miséria num aparece nenhum pra ajudá, nem que seja com a palavra amiga que as veis é mais importante que dinheiro. Mais a desgraceira do pai num foi as festa não, foi uma muié. Foi a muié que desgraçou a vida dele.

- Uma mulher, Marina? Como foi?

- Num sei, dona Francisca, parece que é coisa do Demo. Ele que é responsave pelas coisa ruim do mundo, porque Deus só qué coisa boa prós fios, mas a dita cuja apareceu como por encanto. Conta a Jó que era um dia de muito sol, diz ela que foi o ano que teve mais seca aqui por essas banda, o sol tava rachando tudo, o gado já tava sem pastage, argum já tinha morrido, como eu já falei, nóis era doze irmão, eu era quase caçula, depois de mim só tinha o Ariovaldo. Pois é, diz que nóis tava tudo lá na casa, uns brincano na frente da casa, outros no quintar, as mais veia ajudano a mãe na cozinha, quando Antoim saiu correndo casa a dentro chamano mãe, falano que tinha um home na porta. Mãe saiu lá pra vê. Hora que mãe oiô e pensou também que era home, mais era home nada, era uma muié, muierona arta, lora, carçada de bota, de carça e camisa de home, aí ela falô:

- Boa tarde!

- Boa tarde, vamo apiá!

Maria Lúcia Flores do Espírito Santo Meireles
Enviado por Maria Lúcia Flores do Espírito Santo Meireles em 08/02/2007
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