Os Olhos

Um olhar. Uma troca de olhares. O sorriso se abre mostrando a porta da alma. Um breve adeus.

Dias depois outra troca de olhares. Os olhos agora mais meigos, o sorriso mais singelo. A boca convida, mas a cabeça ainda resiste. “ainda não!”. Aceno de mãos.

De um lado, o telefone toca, do outro, ouve-se um “Alô!” dengoso, que já sabe quem é. “Então tá! Até as 10h00”. Telefone desligado. Silêncio. Ansiedade. O coração dispara, mas já são quase 10h00. E lá vêm aqueles olhos de novo, aquele sorriso. Um beijo. E agora os olhos, os quatro, mostram um novo brilho, uma luminosidade diferente. As mãos se tocam. Amor.

Os dias passam enquanto ouvidos esperam ansiosamente o “trim-trim” vital. Tudo é espera. Os meses se passam e os olhos agora vigiam o calendário. Chega o “Grande Dia”. O smoking aguarda na Igreja a entrada dos amados olhos, cobertos pelo véu branco. “Sim!” diz uma boca. “Aceito!” diz a outra. Elas se beijam. Aplausos e grãos de arroz.

E então, o gosto doce da tão esperada “Lua de Mel”. As mãos tocam o corpo e as bocas beijam esse corpo, que é único no amor que o envolve. Os olhares agora são ardentes e penetram a alma sem nenhum pudor. Paixão. O suor se mistura ao desejo dando, depois, lugar a uma Paz infinita.. E os olhos, cansados, ainda trocam um “Eu te Amo” antes de se fecharem. O mundo podia parar nessa hora

Passam-se meses. Um dia, a barriga começa a crescer, o peito incha e um novo par de olhinhos se abre para enxergar o mundo. E a primeira coisa que vêem são aqueles olhos. E aqueles sorrisos distribuindo para todos a alegria que sentem. As mãos conferem cada dedinho, num gesto de preocupação e carinho. O mundo podia parar para ver momentos assim.

As mãos se unem às mãozinhas, e as perninhas dão os primeiros passos para a vida. Mas os olhos, esses já não são os mesmos. Se olham com receio ou com tristeza, às vezes até com raiva. Raramente com amor. As mãos não mais se tocam e as bocas não proferem mais palavras de afeto. Enquanto isso, os olhinhos crescem, assistindo tudo ao seu redor. E eles choram. Todos eles, inclusive os pequeninos olhinhos castanhos. O mundo podia parar de ver momentos assim.

E as mãos, antes enlaçadas, se distanciam aos poucos. E as mãozinhas são retiradas das mãos paternais. Um aceno. Uma troca de olhares. E os olhos se separam da mesma forma que se aproximaram.

Hoje, aqueles olhinhos castanhos cresceram, são grandes olhos. Mas ainda guardam, no cantinho da memória o que eles viram quando pequenos. E procuram. Procuram novos olhos para recomeçarem a história. Quem sabe desta vez ela tenha um final que o mundo queira parar para ouvir.

Meg Casarin
Enviado por Meg Casarin em 27/07/2005
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