Falta de quê?

     O corredor de repente ficou silencioso. Ninguém mais havia, nada mais se ouvia... Por ali nada mais acontecia. Todos nas salas.
     Naquela em que eu estava, o sujeito de avental branco e giz na mão, sem mais rodeios, começou a falar com o olhar perdido em algum ponto do teto:
     - O ar é importante para tudo que existe... Mas, imprescindível mesmo, para nós humanos. Sim! Por quê? (perguntava atônito para si mesmo) ... Porque usamos o oxigênio na respiração e aproveitamos a energia do ar para diversos fins. Mas, ahhhhhhhhh... Há perigos invisíveis no ar. (girava as mãos no espaço, como se tentasse pegar alguma coisa que não se podia ver). O ar pode ter uma infinidade de micróbios patogênicos, isto é, que provocam doenças. Esse, meus caros, é nosso assunto hoje, nosso objetivo, nosso compromisso.  M  i  c  r  ó  b  i  o  s.
     Era um silêncio só. Parecia que todos juntos formavam um grande e gordo micróbio pairando invisível naquele ar do qual ele falava. Uma grande célula escura que se impunha entre aquelas quatro paredes contaminando tudo. Cada pedaço, cada armário trancado, cada caneta, cada livro puído, cada sapato imundo, cada pensamento perdido.
     Poderia se prever uma longa e preguiçosa manhã. Começou a me dar muita falta de ar.