AMAR DEMAIS

Minha vida sempre foi uma montanha russa em relação aos homens. Nunca estive em paz quando o assunto são eles. De manhã, de tarde e de noite, minha vida é em função do namorado de plantão. Dúvidas, dúvidas, dúvidas. Por que ele não me ligou ontem de noite? Quem era a loira, a nova colega dele de escritório? Aquele almoço com a mãe dele... teria sido com a mãe mesmo? Maldita carência que me fazia sofrer por quem não merecia, amar mais do que devia, fazer escândalos para quem não te dava a mínima. Era e eu ainda continuo achando terrível amar demais. Procurar nos homens o que faltava em mim não é e nem nunca será a solução para resolver os problemas da minha vida. Maldita carência.

Por isto eu sempre invejei a Priscila. A Priscila é minha amiga. Não exatamente a melhor amiga, mas uma pessoa que é legal de conversar, que te ouve, que também fala (e muito) sobre qualquer assunto. A Priscila é reservada. Se ela está numa boa, não te liga para contar o quanto está feliz. Se está deprê, também não liga para desabafar. Agüenta sozinha no tranco. Gente boa a Priscila. Ela é meu ídolo.

A Priscila não está nem aí para os homens. Depois de uma enorme decepção amorosa com direito a depressão, choro, lágrimas e vazios existenciais, ela chutou o balde. Não foi fácil e nem de um dia para o outro. Mas hoje, a Priscila se respeita. Homens? Ela não precisa deles. Se relaciona com quem quer, sem medo de se apaixonar por eles depois da primeira transa. Ela está no comando, enquanto os caras pensam que são eles que ditam as regras.

Minha amiga Priscila não é de se apaixonar. Ela vive cada relação, seja ela de um dia ou de um ano, sem se envolver. Como ela consegue? Não sei, mas eu quero descobrir. Eu PRECISO descobrir. A Priscila não corre atrás de cara nenhum, como eu faço. Ela não liga. Ela esnoba. Ela vive bem consigo mesma. Mas eles vão atrás da minha amiga como abelha no mel. E isto que ela nem é tão bonita assim!

Um dia, depois que a Priscila me narrou a sua última aventura amorosa às gargalhadas, eu confessei que gostaria de ser como ela. Não sei porquê, mas a Priscila ficou surpresa. E eu disse mais. Contei que ela era o modelo que eu gostaria de seguir, que ela era a mulher do século 21, independente, moderna, dona do seu coração e da sua vida. Lembro que ela ficou me olhando, meio surpresa, meio orgulhosa com o elogio inesperado. Até que depois de meditar um pouco sobre o assunto, ela me encarou e perguntou: - Então é isto que eu passo para você? É assim que você me vê?

Sim, eu respondi que sim. Naquele mesmo momento eu sofria porque o meu novo amor, um cara que eu tinha conhecido há apenas duas semanas, não me ligava fazia três dias. E ele era tão fofo, tão gentil, tão bonito, que eu jurei que com este as coisas se encaixariam, que a gente se casaria, teria três filhos e… estas coisas de mulher apaixonada.

A Priscila não disse mais nada. O assunto desviou para meus próprios problemas, para como eu agir, para não mendigar amores que não valiam a pena, etc. Depois daquele dia, a Priscila sumiu. Evaporou-se. Eu não a encontrava em lugar nenhum. Um mês depois, fiquei sabendo que ela tinha recebido uma proposta de trabalho em outro Estado e tal qual fazia com seus amores, se desfez das coisas que estavam por aqui e alçou vôo. Um ano mais tarde descobri que ela estava grávida, casada, bem casada. Imagine, a Priscila, quem diria, casou. Enquanto eu continuo aqui, matando cachorro a grito, procurando um sapato velho para meu pé torto, tentando encontrar em cada esquina um amor perdido, de vidas passadas. Mas eu me pergunto? Será que a Priscila é feliz? Ou será que durante todo este tempo em que eu a gente conviveu, ela apenas estava desempenhando um papel? Não sei. A única coisa que eu queria era não ter que amar demais.

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 08/07/2007
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