A VONTADE DE VENCER

 
     Durante minha infância, passei inúmeras dificuldades.
 
     Meus pais, criados no interior, ligados a lavra de cana de açúcar, não tiveram oportunidade de estudar. Assim, o primeiro emprego de meu pai que melhor condição e esperança para nós (éramos quatro irmãos)  foi o de vigia noturno num órgão público.

     Minha mãe por sua vez, querendo melhorar a renda da família, empregou-se como doméstica, tomando conta de crianças e aprendeu com uma vizinha a fazer o corte de pequenas peças como cortinas, capas de liquidificador, capas de botijão de gás, entre outros, e pequenas costuras como acabamentos e bainhas. Também aproveitou uma oportunidade numa fábrica de brincos, onde podia levar o serviço para casa.

     Apesar de todos esses esforços, ainda passávamos muitas privações e as dívidas acumuladas consumiam a pouca renda.

     Sendo a mais velha, considerei que seria hora de começar a ajudar em casa, e com doze anos já lecionava para colegas da escola na casa de uma vizinha que era explicadora.

     Uma noite, meus pais me chamaram em seu quarto para perguntar se eu conseguiria ficar sem jantar. Estes eventos não eram raros, mas em vez de nascer em mim uma revolta, acabei criando forças para continuar trabalhando.

     Outra noite, tínhamos água e um pão dormido para todos, que virou mínimas torradinhas.

     Um dia, cansada de tantas dificuldades, fiz uma oração à Deus pedindo que nos ajudasse e jurei a mim mesma que iríamos mudar de vida para melhor. Como era boa aluna, eu mesma comecei a ficar depois da hora e ensinar os colegas de turma.

     Alguns pais entusiasmados com a evolução de seus filhos nos estudos passaram a pagar pelas aulas particulares.

     A coordenadora, observando minhas habilidades com trabalhos de recorte, colagem e pintura, mandava para casa, como se eu tivesse algum tempo ou prazer nisso, várias histórias mimeografadas que eu deveria colorir. Aproveitei minha falta de tempo e a sobra de tempo de meus irmãos, e coloquei-os para colaborar comigo. E sem querer, descobri uma forma de fazê-los ficar quietos por horas, colorindo histórias para a biblioteca da escola.

     Aos quinze anos fui visitar o padrinho de meu irmão. Conversava com ele sobre minha vontade de ter um emprego de verdade, mas tinha muitas dificuldades para tirar meus documentos e sequer sabia quais eram os essenciais e como conseguí-los.
 
     Ele providenciou tudo para mim e me vi com um jornal nas mãos procurando emprego.

     Consegui um emprego de secretária em meio período numa confecção, por ser menor em idade escolar.

     Não era perto de casa, mas ficava perto de uma tia de quem gostava muito. Já seria um apoio se precisasse emergencialmente de alguma coisa.


 
Maria de Fatima Delfina de Moraes
Enviado por Maria de Fatima Delfina de Moraes em 01/10/2016
Reeditado em 04/10/2016
Código do texto: T5778059
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