A garagem do José

Em uma segunda-feira pela manhã, antes mesmo do raiar do sol, Henrique, um homem quase bem casado – havia pouco tempo, com Heloísa, uma linda e gostosa mulher, – chega em casa após uma árdua e longa noite de trabalho.

Como fazia todos os dias em que estava de plantão, ele chegava sempre as oito, e não seis como neste dia fatídico.

Ao entrar na rua, de longe viu um carro estacionado em frente de sua casa, mais precisamente atrapalhando a sua entrada na garagem. E, ele é claro, odiava quando isso acontecia. Também, não era para menos, mesmo diante de uma grande placa avisando ser ali, entrada e saída de veículos, ainda assim, alguém ainda arriscava em estacionar justamente lá, onde era proibido.

E assim ele não pôde estacionar, não desta vez. Então, parou seu carro do outro lado da rua, frente à casa do vizinho que ele tanto odiava. Na verdade, eles nunca se deram bem. Tendo inclusive, por algumas vezes, sérias discussões calorosas, a ponto de quase se agredirem fisicamente.

O Henrique, um homem trabalhador, dava plantão em uma delegacia e, por ser ele um isento e bom policial, ficara encarregado de assumir o lugar do delegado que estava para se aposentar por aqueles dias. Bom, ele estava realizado profissionalmente, no entanto, não sei por que motivo, ao que parecia, a sua vida sentimental era um fracasso só.

Heloísa, mais precisamente, Isa, como ele a tratava, vinte e poucos anos, ainda no auge de sua exuberância. Henrique, já ultrapassava os cinqüenta anos, estava na metade de sua carreira, como ele sempre dizia aos amigos.

A sua relação com Isa tinha tudo para ser a melhor das relações. Mas não era, não para ele. Tamanho era o ciúme que ele sentia de sua bela e jovem Isa. E isso o matava por dentro. E quem pagava o pato, era o pobre do seu vizinho que, até então, nada tinha haver com os seus problemas.

Então, Henrique desceu do carro e entrou sutilmente em sua casa. Queria fazer uma adorável surpresa à sua mulher, afinal ele havia chegado mais cedo, e ela sempre reclamava que ele já não lhe dava mais atenção. Bom, na verdade, a surpresa foi para ele. Ao abrir a porta do quarto, viu um elemento sem camisa, deitado ao lado de sua Isa.

Nesta hora, Henrique não pensou duas vezes, sacou o seu velho e bom revólver, e os acordou à bala. Disparou duas vezes contra um monte de roupas sujas que estavam em um cesto próximo à parede. Foi o suficiente para fazer o rapaz acordar e ficar branco como giz. Isa demorou um pouco mais para entender o que acontecia, ela já conhecia os “modos operandis” do velho Henrique.

– O que é isso meu bem? – gritou Isa pulando da cama.

– O que é isso? – redargüiu Henrique apontando a arma para o rapaz.

– Calma Henrique! Não é nada disso que você está pensando meu bem! – gritou Isa bastante apavorada.

– Então quem é ele? Conte-me logo para que eu possa pelo menos saber o nome do defunto antes dele virar presunto – falou Henrique numa braveza só.

– Fique calmo moço, sou irmão dela – disse o rapaz.

– Irmão? Como assim irmão? Eu não sabia que ela tinha outros irmãos além dos que eu já conheço.

– Pois é, ele é meu irmão, Henrique! Tentei falar com você mais cedo na delegacia, assim que ele chegou aqui, mas só, que você estava na rua, como sempre, em diligência...

– E o que ele fazia aqui deitado na nossa cama?

– Nós ficamos conversando até tarde e acabamos adormecendo, tínhamos muita coisa para conversar – disse o rapaz.

– Esse carro aí fora é seu?

– Sim, é meu o carro.

– Então trate de tirá-lo da frente da minha garagem!

Estranho, mas o Henrique parecia preocupar-se mais com a garagem do que com a sua mulher.

Então, mais tarde, depois de conferir a documentação do rapaz, Henrique concluiu, para o seu alívio, que realmente tratava-se de um irmão de Isa. E assim ele pediu-lhes desculpas pela trapalhada e logo depois eles foram todos juntos tomar o café matinal.

No final da tarde daquele mesmo dia, o rapaz se foi. No dia seguinte, Henrique não trabalhou, ele cumpria escala de doze por trinta e seis horas. No segundo dia, ele precisou ir a uma cidade próxima e, só retornaria no final do outro dia. Mas, novamente o destino pregaria uma peça na vida do Henrique.

A viagem acabou por ser adiada e, ele é claro, louco para ver sua Isa, novamente retornou mais cedo para casa. Desta vez, a sua garagem estava totalmente livre, como ele gostava, no entanto, para seu desespero, ao entrar na sua casa se deparou com uma cena muito forte: o seu vizinho, transava com a sua amada Isa, bem ali, no sofá.

Desta vez, ele nada falou, sacou novamente seu revólver e disparou contra o seu vizinho, vindo a ceifar-lhe a vida. Então, Henrique foi preso logo em seguida, e assim ele ficou sem a sua Isa, sem a sua garagem. O que ele não sabia, é que o seu amigo delegado, também era freqüentador assíduo de sua casa. É, arma não mão de um corno é um perigo, assim disse o delegado enquanto beijava a bela e adorável Isa, do Henrique.

Autor: Edilmar Lima

Edilmar Lima
Enviado por Edilmar Lima em 09/10/2005
Reeditado em 09/10/2005
Código do texto: T58170