Um Testemunho

Passei 20 anos privado da liberdade.

Um roubo, seguido de assassinato, o que vim saber que era "latrocínio" no dia do julgamento.

Nasci pobre, no sertão do Pajeú.

Quando criança, ajudava o meu pai nas tarefas do dia a dia da roça.

Sol escaldante, acompanhado da falta de água, nada crescia, nada se criava. O feijão não nascia. O gado morria, como a nossa esperança.

Um dia meu pai cansou. E levou eu, minha mãe e meus quatro irmãos para a capital. Dizia:

- é melhor trabalhar de qualquer coisa na cidade grande do que esperar a misericórdia de Deus, mandando chuva para renascer nossas vidas aqui, neste mundo seco de comida e esperança. Chega de miséria!

E lá fomos nós para o Recife.

Primeiro, engrossamos a massa a beira dos mangues.

Meu pai, não conseguia trabalho e quando conseguia, vivia de subempregos. Mal dava pra comer. A miséria só mudou de endereço.

Começou a beber muito. Logo, tornou-se um alcoólatra.

Em uma dessas bebedeiras, brigou com um desconhecido e foi morto com seis tiros.

Ficamos eu, minha mãe e meus quatro irmãos.

Eu era o mais velho. Logo, para sobreviver, envolvi-me com pequenos crimes.

Daí para o tráfico e por último com uma arma na mão, era invencível.

Mas fui vencido pela minha origem.

Num dia de assalto mau sucedido, matei um homem e na fuga, fui baleado e preso pela polícia.

Fui julgado e sentenciado a 30 anos de prisão.

O meu advogado tinha raiva de mim. Era um defensor público. Os seus olhos diziam que " lugar de bandido é na cadeia". Já estava condenado desde o dia que nasci.

Mas tinha uma bênção em minha vida, apesar dos pesares.

Minha mãe, que depois que fui preso, arranjou um trabalho de empregada doméstica e meus irmãos, talvez pelo medo do meu exemplo, passaram a se "virar", com trabalhos vendendo pipocas, confeitos, lavando carros e outras coisas que não fosse o crime.

Todos os domingos, minha mãe ia me visitar. Eu já sabia a hora que ela chegava e sua presença, era a única realidade que eu entendia.

A cadeia é cheia de oportunidades. Para o mal, sempre.

Aprendi que poderia ter regalias se fizesse as coisas "certas" lá dentro.

Passei a ser soldado de traficante. Depois com a minha violência, pela insegurança que aprendi com a vida, sabia me defender e logo usar este poder para defender a quem me pagava com a minha sabedoria.

Tive dias de glórias. Respeito. Reconhecimento. Regalias. Era disputado pelos "homens" que mandam no presídio. Eu era eterno. Todos respeitavam "Pajeú". Esse era o meu nome.

Um dia, desafiei um chefe de tráfico, e fui morto com muitas facadas, por um punhado de inimigos.

No enterro do meu corpo, somente minha mãe estava presente, chorando a perda de um filho.

Fui para um lugar tenebroso. Não sabia onde estava. Eu que nunca me assustava, tive medo.

Mas sempre na mesma hora, sentia um consolo no meu coração, que vim a saber depois que eram as orações de minha mãe pedindo a Virgem Santíssima que intercedesse por mim.

Depois de tanto sofrimento, fui resgatado por uma equipe espiritual de socorristas. Minha hora tinha chegado.

Fui para um lugar lindo, cheio de flores, árvores e pessoas bondosas. Até então, não sabia o que era isso.

Fui melhorando. Aprendi. Evoluí e hoje sirvo ao mestre Jesus.

"Não se perderá do meu rebanho uma única ovelha do meu pai".

Um irmão em Cristo.

EMERSON DANDA
Enviado por EMERSON DANDA em 03/12/2016
Reeditado em 03/12/2016
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