... mas o machado de Assis não era sério!

Depois de uma noite de amor profanamente despudorado, o beijo é o salutar: "tenha um bom dia meu amor. Quê a libido da longevidade e o feromônio do desejo esteja sempre por perto e nos leve ao amor sedento e enquanto dure, eternamente Concupiscente"!

Coberta pelo vestido sensual que sem pinça, cai, desce direto pouco abaixo da cintura, deixando à mostra a cor bronze dos raios de sol que todos os dias à tarde visitava suas intimidades, a maldição em pessoa vinha caminhando toda garbosa. Trazia com ela os peitos aureolados pelos bicos cheios apontando para o ocaso e o umbigo pontudo furando as nuvens à frente de uma barriga estufada em forma de melancia de nove meses. Acompanhando-a, vinham três criaturas edição-ilimitada; que em qualquer CNTP, o futuro lhes é incerto. E todos se juntariam aos demais para pedir a benção aos pés do pároco; e implorariam o que houver de bondade aos políticos da cidade.

Felicidade seria se a vida fosse como a entrada triunfal de uma modelo na passarela; se o mundo girasse em torno das palavras carregadas de emoção; se o político brasileiro fosse sensível e furtasse menos o alimento de seu fiel puxa-saco e pobre eleitor; se as flores não possuíssem veneno tóxico; se as joias em caixinhas com laços não fossem armadilhas ocultadas; se a poesia fosse irmã e delineasse o dia a dia dos envolvidos numa relação; se as aparências não sobrepusesse a essência; se a mutabilidade estereotipada da igualdade não fosse amante do ego, mas é sabido desde os primeiros passos do homem, que a intolerância, que o uso contínuo da mesma escova desgastam as cerdas, criam tártaros, amarelam os dentes, que as tormentas, inicialmente atormentam e geram as primeiras inconveniências, para posteriormente, desfazer todo e qualquer sonho idealizado; todo e qualquer plano elaborado. Planos escritos com tinta de caneta falha em folha de papel molhado, é claro!

Ferino, o tempo dita o ritmo relacional dos Homens na Terra. E se em tempos passados macho e fêmea, homem e mulher, os sexos opostos se aturavam, empurravam a monotonia estampada nas caras com a barriga, suportavam as insubordinações um do outro e até a traição era válida, a primeira estrofe da letra "Velha Roupa Colorida do cearense, Belchior, dava a nota exata da época em que a canção foi composta: "Você não sente nem vê / Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo / Que uma nova mudança em breve vai acontecer / E o que há algum tempo era novo jovem / Hoje é antigo, e precisamos todos rejuvenescer".

Pare a nave que o manche do futuro está repetindo o passado e embora revisado, lubrificado e em bom estado de conservação, travou. O rejuvenescimento aconteceu a tal ponto, que para os convencionalistas, padronizados e conservadores dos métodos evolutivos, foi além, muito além do que devia; voltando a ser roupa carcomida. "E o que há algum tempo era novo jovem / Hoje é antigo, e precisamos todos rejuvenescer".

Como tudo, o novo também enruga, envelhece, apodrece, fica roto; e os relacionamentos amorosos no mundo nosso de cada transada rápida, estão cada vez mais superficiais. O prazer e o gozo passaram do estado sólido para o gasoso, do gasoso para o líquido ( e como estão líquidos: uma barrela de água) e estão cada vez mais descartáveis, estão cada vez mais da porta da sala para fora, devido a batalha que se instalou entre o machismo e o feminismo; entre gêneros e mentes fechadas; entre maridos e esposas; entre pais e filhos; devido a liberdade e a prisão, entre a faca e o facão; entre a foice e machado, entre a fidelidade e o adultério. Se as tecnologias de comunicação instantânea não contribuíram de maneira favorável para o modernismo, no quesito traição, facilitou consideravelmente a vida dos adúlteros. Apertou uma tecla ao acaso, o cardápio com boas e apetitosas iguarias é servido.

Aliás, o matrimônio oficializado perante a Constituição Federal (exclui-se dele o falso pudor defendido pelos religiosos em nome Deus) que é a maneira lícita de formar uma família, está em total decadência devido à interesses financeiros, liberdade sexual e o tal de faça e use agora enquanto está ereto e o sereno da madrugada umidificou a mata, deixando-a volúvel, escorregadia, movediça. E como consequência, segundo as estatísticas, o número de divórcios é maior que o número de casamentos oficiais; o que também gera polêmica e estranheza; pois como divorciar, se não oficializam, se em nome do matrimônio, não legalizam a prostituição que vem de muito antes? Por sinal, poucas coisas na vida representam tão bem a prostituição e o escravismo moderno, do que o casamento; onde um ou outro, ou dois trabalham, produzem insanamente, para uma leva de desocupados saciar a fome e esbanjar contentamento com as quinquilharias tecnológicas adquiridas!

O matrimônio oficializado e registrado em Cartório é contrário e ao mesmo tempo parecido com os pássaros que roubam o alpiste da gaiola vizinha, comem farelo e migalhas por tempo indeterminado na mesma rodoviária oxidada em pleno sol escaldante, fazem tudo por debaixo dos lençóis e com as gretas das portas e janelas rigorosamente trancadas e seladas; nem a intrusa lua de olho arregalado tem chance de espiar.

No Brasil, os números não param por aí, pois a matemática aliada de Deus não trai e muito menos mente, e afirmam que a cada cinco recém-nascidos, um é filho de adolescente; o filho dos mistérios é quase uma criança sem donos. Citam ainda que em 2016, foram mais de 430 mil crianças que nasceram nessas condições. A estatística vai de mal para melhor, quando os números aumentam em escala progressiva, exatamente como tem ocorrido.

Para alegria dos políticos brasileiros, (porque os filhos de ricos dividirão o poder com eles) que investem pesado nesse público, afinal é dessa classe que provém as vossas sobrevivências e voto, o Norte e Nordeste lideram os números, com quase 1/3 das gestações inesperadas e mal planejadas; se é que planejam o país, o local, o mês, o dia e a hora para fazer sexo. Pouco provável, pois fazer sexo, "dar umazinha" sem camisinha, não requer país e ambiente definidos; e qualquer largo de praça é local apropriado. Numa operação bombeiros, entrou no cio, apagar o fogo é preciso!

"Eu não posso entender/ Tanta gente aceitando a mentira / De que os sonhos desfazem / <strong>Aquilo que o padre falou /

Porque quando eu jurei / Meu amor eu traí a mim mesmo / Hoje eu sei que ninguém neste mundo / É feliz tendo amado uma vez... uma única vez" - Raul Seixas

Por um lado, matrimônio é semelhante à tecnologia, compra-se hoje, falam, cospem, saem pela noite, comem algumas porcarias, iludem o estômago. Como sobremesa, degustam o mel oferecido por luares ofuscados e descartam o lixo ao terceiro dia. Por outro, quando dura um pouco mais, (quando não se tornam irmãos antes dos cinco anos de uso, talvez) é totalmente insosso; sem inovação; parado no tempo; asilo que não se renova. Volume morto, velharia aposentada e nada mais!

Sobretudo, deserdadas as palavras de entendimento, arrancado a euforia do desconhecido, enojado do ultrapassado néctar nupcial, não sobra mais nada; ou melhor, sobram os desprazeres, desgostos e as contas para pagar até que a morte os separe. Falam que o companheirismo é a sobra, mas convenhamos, pura conversa para ninar ruminantes. Ainda mais quando as águas que desciam dos montes, não borbulham na fonte. Por falta d´água perde-se o gado, o amor, a tesão, a libido... e no final, é morte precoce por desidratação. Comem tanto, bebem tanto, esbanjam tanta tesão, que falta para o dia seguinte.

Em tempo, ... este artigo também não é sério e nem pretensão tem, porque o sexo e o resultado dele, por que o matrimônio e o resultado dele, por que a família e o resultado dela, que é a sociedade, não são sérios. Como mencionado na introdução, deve ser eterno enquanto dure e após passadas as efemeridades do hedonismo das horas, amassado, desfeito e jogado no lixo ao fim da leitura, será. Afinal, ratificando e imitando a vida, este artigo não é sério, pois tudo é descartável e resume-se na condicional "se"...!

Por exemplo, se minha mãe não tivesse tido um ataque de tesão inesperado, abrido as pernas em ambiente escuro e despertado em meu pai a gula dos diabos fora de hora, eu não teria escrito essa porcaria de artigo que não é exemplo para nada, essa merda intitulada: "... mas o machado de Assis não era sério!" O Senhor Assis era sério, mas o seu Machado...! Por que, se o intuito do escritor fundador da ABL (Academia Brasileira Letras) era esclarecer, cortar o mal pela raiz, suas ideias e letras estavam sem gumes. Nada cortantes, pois o conto mal contado entre Capitu e o faz de conta, chamado Escobar não surtiu nenhum efeito para os brasileiros. Aliás, tenho comigo que o marido oficial de Capitu, Bentinho, assim como os casais brasileiros oficializados nunca leram o prefácio do livro; portanto, mal sabem da trama que redundou no adultério jamais esclarecido.

Motivo de enredos iguais ao criado por Assis, acontecerem aos montões de Norte à Sul no país, porém, certos ou errados, descobertos ou não, verdades ou mentiras, fiéis ou infiéis, são paulatinamente transformados em crimes passionais. Por sorte, o livro foi escrito e publicado por volta de 1900, porque se (novamente o insistente "se") fosse nos dias de hoje, Assis teria que acrescentar à trama, em vez de um rio lágrimas, um oceano de sangue. Oxalá se não for parar em programas altamente seletos, qualificados de estilo, como Datena, Ratinho e outros mais; afinal, a traição, o adultério e o crime, além de compensar, transformam pessoas comuns em celebridades da noite para dia.

No país das transadas rápidas, sem demora e quando não nasce prematuro, fazem efeito aos nove meses, faltam Senhores Assises, mas machados sem gumes e bons exemplos de seriedade é o que não faltam. Não veste a roupa do rejuvenescimento quem é arredio, ou é estúpido por natureza e inteligência!

© obvious: http://obviousmag.org/ministerio_das_letras/2017/02/-mas-este-artigo-nao-e-serio.html#ixzz4aAUQyTmn

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Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 02/03/2017
Reeditado em 02/03/2017
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