Me apaixonei por um drogado

Ele vivia chapado, falando coisas sem sentido. Língua enrolada, língua afiada.

"Pra puta que pariu todo mundo! Cadê o dichavador?"

Irado todo hora. Sempre. Ora vezes, calmo demais, perto de mim, brisa, manhã de sol leve.

Nossas fodas sempre acabavam com ele gozando e cheirando uma carreira depois ou enrolando um baseado.

Baseado em quê eu me apaixonei por esse "Zé Ninguém"?

Sei lá, velho. Se tiver a resposta, manda pra mim como sinal de fumaça, mas não deixa ele ver senão vai achar que é festa na boca da esquina.

Ele é bom, trabalhador, inteligente, só é meio louco.

Talvez seja só perspicaz demais e usa as drogas como ópio pra fugir dessa sociedade demente.

Ou talvez seja fraco demais ou talvez tenha sido forte por tempo demais e amoleceu a força psíquica.

Sabe como é: cada um estraga a vida a sua maneira: eu amo ele, ele às drogas. Fodas e mais fodas!

Thina Freitas
Enviado por Thina Freitas em 12/12/2017
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