A DOAÇÃO parte 2

O taxi o deixou no centro da cidade, enquanto caminhava entre os moradores de rua o pacote com a peça de roupa que levava em baixo do braço, vibrava.

Lembranças felizes vieram à sua mente, depois veio às tristezas, ele respirou fundo procurando afastar as recordações tristes, se alegrou ao recordar do tempo que andava por aquelas ruas na sua adolescência trabalhando de Office boy, depois vieram às lembranças dos tempos difíceis da faculdade, novamente respirou fundo procurando se conectar consigo mesmo, este método aprendera com grandes educadores, para manter o foco basta prestar atenção na própria respiração.

Debaixo de um viaduto achou interessante a maneira que tinham feito uma barraca, eram plásticos colocados com um efeito de cascata, de repente ouviu uma voz o chamar:

_Ô Dotor!... Chega aí! Temos um ótimo negocio pru Senhor! – Ele se virou e viu um homem de estatura mediana de meia idade. Fazendo sinais. _Chega mais ai Dotor...!

Aproximou-se, o homem lhe estendeu a mão. _ Meu nome é Jacaré este aqui é o Nero e este é o Quim! – Ele apertou as mãos dos homens falando:_É um prazer meu nome é Júlio!

Nos rostos inchados e nos corpos trêmulos estava estampada a doença do alcoolismo.

Júlio pergunta? _ Que negocio querem fazer? –Jacaré o pega pelo braço dizendo:

_Vem ver a relíquia que temos! – Levanta um plástico e mostra um aparelho de som com toca disco bem antigo Júlio o examinou atentamente pensando, - “esta peça pode ser restaurada e levada a um evento beneficente com certeza os leiloeiros poderiam conseguir um bom dinheiro”. Perguntou: _Funciona? – Nero tomou frente respondendo: _Não funciona,um chegado nosso diz que é fácil consertar. - _E quanto pedem por ela? – Perguntou.

Jacaré responde: _Apenas duzentos reais Dotor! Deu muito trampo, tranpamos o dia todo na limpeza de entulhos da fábrica, o dono nos deu uns caraminguás (pouco dinheiro) e esta relíquia. –

Júlio dá mais uma examinada, propõe: _ Como não está funcionando dou cem reais! –

Quim o cumprimenta estendendo a mão dizendo: _Negócio fechado!

Júlio tira uma nota de cem do bolso rindo: _Se tivessem endurecido a negociação, eu pagaria mais. – Eles dão uma gostosa risada, Jacaré fala: _ E se o Dotor..dá uma chorada, ia pagar mais barato! – Todos deram fortes risadas.

A nota de cem passou de mão em mão, todos queriam pega-la, alisa-la fingindo que testavam através do tato se era verdadeira ou não, aqueles homens provavelmente faziam muito tempo que não manuseavam uma nota daquelas.

A alegria, a felicidade espontânea que transmitiam, contagiou Júlio, que emocionado com alegria deles tirou mais uma nota de cem do bolso, dizendo: _Nero, você tem razão esta peça vale mesmo os duzentos reais!. – Jacaré, pego de surpresa ficou sem ação, Quim imediatamente pega a nota dizendo: _ É isso aí, vale mesmo! – Os homens dão pulos de alegria cantando: _ Hoje é dia de festa, festa, festa! –

Júlio sorrindo vai se afastando: _ Jacaré fala alto: _Dotor não vai levar o toca discos? –

Ele responde:_ Vou Sim, amanhã venho buscar! –

Nero fala alto: _ Fica tranquilo sua relíquia vai ficar aqui bem guardada. –

Júlio sentindo muito emoção se afasta, aquela alegria espontânea mexeu com suas emoções, disse para si mesmo “conheço gente com muito poder e dinheiro que dariam uma verdadeira fortuna para sentir uma emoção destas”.

Continuou andando pelas ruas procurando encontrar alguém para fazer a doação.

Continua....