Verdade tem hora e grife

A verdade tem existência própria e se apresenta vestida de grifes diferentes, dependendo do local onde deseja se instalar. Se ela se apresentar grosseiramente, gritando ou falando alto num ambiente requintado, poderá expelida. Mas se ela se apresenta bela e transparente aonde nos âmbitos decisórios, certamente terá muita dificuldade para entrar.

Isso podemos perceber na fábula oriental de Malba Tahan, chamada ‘Uma fábula sobre a fábula’. No episódio a verdade deseja entrar no poder constituído mas é barrada pelo segurança, que obedece ordens superiores. Ela primeiro aparece nua e não pode entrar para não escandaliza. Depois, aparece grosseiramente. Mas é barrada, de novo. Somente quando se transforma em fábula, é que consegue se entronizar. Há uma permissão superior para isso.

É interessante porque nenhum dos subordinados se encandalizam com a verdade nua e crua, transparente e violenta. Os pobres não escondem a verdade. Dizem-na pois não temem perder o poder – que não têm – apenas querem que as coisas aconteçam com justiça. Aqueles que tem receio da verdade, certamente, têm algo a esconder e não desejam que todos saibam dos seus critérios.

A partir do momento que a verdade se levanta e se faz ouvir a sua voz, algo está ameaçado. Quando uma denúncia de qualquer CPI surge, seja ela verdade ou meia-verdade, começa-se uma luta de interesses privados, sociais e políticos. Vozes e gritos começaram a explodir confirmando as denúncias, defendendo-se ou acusando quem quer que seja. O eco das manifestações se poderá ouvir de longe... mas até que se prove que é verdade, ela será apenas uma meia-verdade.

Reescrita de uma fábula