Lá no fim do caderno.

Sabe aquela folha em branco, que o aluno desatento rabisca enquanto a aula acontece lá fora, lá na frente, que nem se dá conta que o tempo vai passando? Sou eu.
Entre riscos desalinhados e supostos grafites imaginados, levo no peito várias e repetidas vezes teu nome. De todas as formas e todos os jeitos. Alguns destes nomes por exemplo, já riscados por cima, demonstram minha inquietude com as ausências prolongadas, tanto físicas como emocionais.
Na mesma folha, no canto superior o começo de uma carta com duas ou três frases sem sentido, querendo te contar algo, algo que você nunca vai ler ou saber.
Corações aos montes por toda parte, uns com flechas outros partidos e um com uma lágrima, ou duas quem sabe. Os riscos longos são o tédio, os curtos, o disfarce na proximidade feita pelo professor. Muitos pontos feitos com a batida da ponta da caneta, uma suposta noite estrelada onde estaríamos se o futuro nos pertencesse, (se...)

Estou lá no fim do caderno, sempre pronto para a última viagem. Já me tiraram uns pedaços com números que se foram mas nunca retornaram. Estou dobrado ao meio, meio amassado também, apenas seguro por duas ou três pernas do espiral que insiste na minha presença. Ah, se ele soubesse!

Daqui a pouco, como mais um entre tantos, viro bola, não sirvo mais para avião. E no gesto de pura física, aquele que se diz meu dono lança-me, depois de me passar no banco da praça, em meio aos arbustos. Será sorte  minha não ir para um cesto, como tantos outros.

Estarei livre em meio ao verde das folhas verdes, até quando a chuva me ajudar a desmanchar ou mesmo dissolver-me na terra, e nesta terra, para quem um dia fui celulose, sentirei ter cumprido meu caminho, minha sina, que sina...