Ziguezagueando 33

Ah! Vontade de todos! é o que mereceríamos! entender todo este mistério do mundo, e a causa da nossa inserção nele. Esta metamorfose que integramos como partes, provindos de um passado sem princípio, e que repercute em nós.

Quisera assumirmos nosso sentido interior da audição, pela pacificação perfeita de nossas mentes!!! E o som que transcende da lei inata de todas as coisas, o eterno ritmo de tudo que se move, nos fosse revelado.

Alguns do passado, e outros deste presente, raso de significado, tem buscado navegarem em si mesmos por meio dos ensinamentos e formalidades deixados para a auto investigação, os que amiúde chafurdaram dentro das próprias mentes, permitindo a si mesmo estarem abertos ao acolhimento da vida como ela é.

Diz a sabedoria, que uma vez acessado, pela vontade pura e incondicionada, por meio da meditação silenciosa e desapegada, ao Som Universal, anterior, gerador, e motor de todas as coisas, estes homens se fizeram de receptáculos, comparáveis à uma flor, que abre suas pétalas para a luz, e para todos os que partilham da sua inocente beleza e perfume.

Nos deixaram trilhas para que assim pudéssemos seguir rumo a dentro de nós mesmos, para esta riqueza sem preço, nem nome.

Hugo e Jovita, talvez estivessem, desde que se conheceram, buscado o alinhamento das suas naturezas, rumo a completude, numa constante troca e absorção da energia um do outro, na fazedura de campo para a auto investigação, que indicavam ter intenção de estarem dispostos a realizarem, para o alcance da paz suprema.

Eram tão senhores do próprio destino, da necessidade da privacidade em último grau, para viverem como quisessem a aflição do fato de serem finitos, inconstantes, mutantes, que tratavam a vida e eles mesmos em essência como correnteza sem fonte. Até a velhice, não tinham aberto mão nem para o amor, para o juntar das trouxas definitivamente.

A solitude escolhida, mesclada pelos encontros intermitentes dos dois por anos, denunciava uma certa alimentação das almas pelas beiradas de algo alheio de que necessitavam, que encontravam somente no contato com o outro, para irem amansando os espíritos, rumo a lucidez interior, para aquela paz almejada, que excede todo o entendimento, que seria suficiente para o calar da dúvida, dos porquês, do sufocar da ânsia de conhecer aquilo que não pode ser revelado pela razão, do que é a vida, do que vem depois da morte, do que somos, para onde iremos, de onde viemos.

Hugo, desde os setenta , deixou as aulas que ministrava na Universidade. Abriu mão da atuação para os mais novos, perdeu o ímpeto para a vida acadêmica, sabia que não era insubstituível. Mesmo sob protestos da reitoria e do corpo docente, interrompeu a atuação no magistério. Saiu de cena.

Depois, dividia o tempo e dias da semana no atendimento na clínica que tinha no centro da cidade, passou ter pouca clientela. E à pesca. Se descobriu na arte, ficava horas à beira de um rio com a vara às mãos, próximo a cidade. Pescava pouco, quase sempre saía sem ao menos um lambarizinho pescado.

Foi assumindo lugar no silêncio. Os livros, passaram ficar empoeirados, até mesmo desarrumados na estante, coisa que não se via antes.

Pescando, calhou na ideia da possibilidade de pedir Jovita em casamento. Entendeu não passar de pensamento mirabolante, daqueles que procuram o nada para deitar e rolar em pensamentos. Jovita o enxovalharia de riso, acharia uma tremenda cafonice os dois assinando papel para consagrarem a união de anos, dizia que era desnecessário, afinal, como tinha dito várias vezes: “Hugo, você não precisa provar mais nada para mim, o importante você me deu, fez de si um pouco meu. “

Mas a ideia não o abandonou. Passou em frente a uma joalheria, aguçou a vontade de entrar. Se viu diante da vendedora perguntando preço de alianças. Saiu de lá com um par das mais caras, eram compostas das três qualidades conhecidas do ouro; o velho, o dezoito, e o branco, com um diamante minúsculo em cada. Maravilhosas.

Sabia qual a medida do dedo de Jovita, presenteava a amada todos os anos com uma joia, em seu aniversário ou dia dos namorados, coisa das antigas, mas era cerimonial entre eles.

Ora era anel, outras corrente, pulseira, braceletes. Jovita tinha uma coleção de joias guardadas, ganhas do enamorado. Usava-as em ocasiões especiais, às vezes, para receber Hugo quando ia para casa nas quinzenas. Ele, logo que a avistava toda emperiquitada, com os acessórios que tinha a presenteado, abria um sorriso largo, conduzindo-a no colo salpicando carinhosamente beijos no rosto da amada.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 11/07/2018
Código do texto: T6387456
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