Dia terminando

Lucas chegou em casa , seu olhos estava vermelhos, queria falar tudo que ocorreu: a dor no peito, o suor e o vomito, enquanto atendia aquele cliente, porém fez um julgamento egoísta, achou que não havia ninguém com quem pudesse dividir, que Carmem poderia censurar os seus dramas .

Deitou no sofá, o filho mais velho passou na sua frente como se ele fosse invisível, depois a esposa e veio e lhe deu um beijo, por um instante sentiu o perfume.

-Fiz comida – ela disse ligando a TV, mas olhando o celular, depois completou – se quiser esquento pra você.

-Hum – balbuciou Lucas, ele sempre dava as respostas que não eram resposta, pois quase sempre estava no mundo da lua, com aqueles pensamentos, repassando o dia, naqueles momentos, na verdade, ele tinha vontade de abrir uma cerveja, parece que o álcool liberava a sua cabeça, mas não faria isso, pois não queria um sermão da Carmem.

Abriu a cerveja, Carmem reclamou algo, disse que ele estava bebendo em plena quarta feira, ele só pensava nas palavras que disse para aquele cliente, será que ele ia desistir da compra?

A filha pediu que ensinasse alguma coisa de matemática, ele olhou para o rosto de Alice, sentiu uma redenção minúscula de seus pecados nos olhos da filha, e viu o quanto ela parecia com a mãe.

Sentou-se ao lado da esposa, abraçou Carmem, dai pensou.

“Dane-se o cliente”.

-Parece que seu dia não foi tão ruim assim – disse Carmem adivinhando e retribuindo o abraço.

-Nenhum dia é ruim, pois ele termina aqui.

-Ontem você estava triste? O que foi?

-Quem liga para ontem – ele falou abraçando mais apertado - hoje me senti mau, tive umas dores, ai larguei um cliente, o desgraçado reclamou, me chamou de incompetente, disse que na época dele homem terminava o serviço, não aguentei e respondi, acho que não vou mais vender pra ele.

-Foi ao médico? – Carmem se ajeitou no sofá e olhou nos olhos de Lucas quando falava, então Lucas percebeu aquele amor, ela se preocupou com ele, estava se lixando para o cliente.