Ziguezagueando 37

Não restaram mais palavras, somente choro. Houve um baixo ressoar de gemidos intermitentes, de Jovita, e de Hugo, que se fizeram, naquela tarde, conhecidos um para o outro, na atualização dos dias vividos a dois.

Jovita, agora ajoelhada aos pés de Hugo, implorava perdão, suplicava compreensão, sem prejuízo de não voltar atrás nas palavras ditas.

Passou resmungar:

___Te amo, Hugo! mais que tudo que possa ser digno de afeto! Você, Sou eu em movimento. Mas preciso senti-lo no seu excesso, seguir atraída por seu magnetismo solar, certa que o rumo que tu tomares, será o meu, incondicionalmente. Mesmo que mantenha no irrevelado do seu coração a reta, e vá para o túmulo com os motivos das intensões de ida, escolheria segui-lo, , estando ciente que os mistério que a eternidade guarda, poderá nos tornar separados, num eventual caminho, que poderá se bifurcar.

Aquela senhorinha se desmanchava numa cena dramática sem precedentes, nem mesmo a morte de sua mãe lhe doeu tanto. Ser sincera para o único homem que amou, custou-lhe caro.

Hugo pegou a caixinha preta, fechou-a. Olhou para Jovita como quem pedia seguimento do dia. Aprendera nos anos, o que não tinha para defesa interna nas surpresas do emocional, nas primeiras décadas de vida.

A velhice exigiu de Hugo estabelecer um distanciamento diante do inusitado, inclusive revelares como aqueles, aparentemente crueis, de difícil digestão.

Nos quarenta anos de vida de psicólogo, e extensos estudos sobre a mente humana, levou-o orquestrar na mente por antecipação, não somente o externar do pensar alheio, como os de si mesmo. Antes da formação de sentenças, de valores, opiniões que levariam a escolha desta ou daquela ação, cozinhava o vivido no tempo, na reflexão vivida depois do esfriar das emoções.

Limpou as lágrimas, Jovita estava na varanda da casa alimentando os passarinhos, que vinham todas as tardes na área externa se alimentarem da ração. Ela, pretensiosamente colocava para eles comerem.

Hugo convidou-a para caminharem a beira praia, era início de primavera, as tardes estavam maravilhosas, com a saída de cenário do sol um pouco mais tarde.

Sairam abraçadinhos, precisavam respirar, a conversa tomou rumos profundos, remexeu as respectivas consciências, que estavam cansadas por demais pelo trabalho nelas na estrada da vida. Não seria a convulsão intestina no relacionamento ocorrida, que levariam ter ímpeto para briga, provocares de feridas nas almas em reciprocidade. O que tinham vividos até aquele dia, não foi história de momento, tratativa de corpos, cuidaram da alma um do outro por anos, eram parceiros que se dispuseram serem aprendentes na vida a dois.

Sentaram em um banquinho, bem próximo a areia da praia, justinhos um no outro, olhando para o mesmo horizonte de sempre, ondas, céu e gaivotas, barulho do mar, surfistas e banhistas transitando, o fenômeno vida acontecendo no seu melhor espetáculo.

Jovita resmungava, enfiada no abraço de Hugo:

___Quero me ver em você, de modo que me sinta vencida, diante da glória que despertar como saída de ti. Preciso disto para morrer livre, alforriada desta vida, para bater asas rumo ao desconhecido, orgulhosa de ter tido amado um homem inteiro, herói de si mesmo.

Toma-te pelas mãos, faça de ti instrumento de realização, sinta, perceba pela visão interior o melhor de ti, semeie na terra fértil do teu coração, alimento de significação.

Precisa de algo exclusivamente seu, gere vida, luz e calor, para que eu orbite aderida em ti, e me sinta completa.

Hugo retaliou:

___Jovita, sem você no centro, para dar órbita para o meu mundo ocorrer, não passo do heterônimo pessoano, Álvaro de Campos: Continuarei um fósforo frio, não viverei, durarei, somarão dias, deixarei de ser velho, quando eu for. Você foi o verbo que se revelou em mim, para que eu me aceitasse como homem, nesta terra onde quem pode mais, obedece menos. Não aceito prosseguir sem você, fui longe demais dentro, antes de conhece-la. Inaceitável sua proposta, sair da sua vida para procurar me acrescer, jamais. Mesmo sem o par de alianças, ficarei.

A velhice não permitiu a expressão real do beijos que roubou de Jovita, na surpresa, queria devorá-la, as mãos não alcançava o que queria a mente, o tremular delas, os reflexos que baixaram guarda para a ação, não contribuíram para levar a Jovita o desespero, o medo de Hugo em perdê-la.

Jovita, sentada juntinha de Hugo, naquele banco em frente a orla, recostou sua cabeça no ombro do amado, passaram ficar silentes, assistindo, mais um dia, o despedir do Sol ao final da tarde.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 15/07/2018
Reeditado em 15/07/2018
Código do texto: T6390836
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