SOB A VIBRAÇÃO DOS TRILHOS

Ela me contou que apenas vinha…

Dia caindo no horizonte poluído, plataforma agitada, cansaço deflagrado na face decaída, trem lotado.

Ela vinha como um robô pela vida, maquinada que estava em manter a sobrevivência heróica pelos trilhos dormentes que a levavam pelos sonhos de existência.

Não era mais tão jovem assim mas ainda trazia no peito a vontade de continuar tentando.

De repente sentiu que alguém lhe encostara diferente na agitação lotada do vagão.

Tentou sair dali mas não conseguiu.

Acelerou o coração e dissimulou.

A despeito das informações da mídia, ainda não estava bem certificada de que fugir dos assédios constantes pela vida nos garante o respeito às causas, ou se apenas tais fatos recheiam os atuais noticiários sensacionalistas que buscam audiência.

De repente sentiu uma vibração sobre a parte superior da sua coxa.

Não , não restava dúvida, tomaria uma atitude.

Num movimento instintivo conseguiu se virar e, enfurecidamente, tacou sua bolsa na face do homem que se grudava a ela.

Ele, totalmente desconsertado, sacou o celular do bolso, cancelou o modus “vibra calls” , desligou a chamada urgente e se desculpou:

“senhora, foi só meu celular que vibrou uma chamada, me desculpe, não tenho como sair daqui, jamais foi minha intenção.

Ela , corada na face, paralisou sua resposta.

Baixou a cabeça e apenas lhe murmurou:

“eu é que lhe devo desculpas…senhor”

Relato em Conto verídico.